segunda-feira, dezembro 25, 2017

Segunda, 25.
Há muitos anos que não tinha uma noite de Natal tão agradável e santa. Todos os meus convidados juraram-me durante a ceia não terem praticado nenhum acto dos muitos de que são acusados e até o Cardeal Patriarca de Lisboa disse que ama do fundo do coração o Papa Francisco. Só Marcelo telefonou a dizer que não viria, porque estava com uma senhora piela devido às ginjinhas que bebeu no Barreiro. Que seita, hein!

         - O tempo dos barões da medicina julgava eu estava extinto. Enganei-me. O helicóptero de Évora teve que ser deslocado para Lisboa por... falta de médicos! Nesta quadra natalícia, as pessoas que tenham o azar de adoecer, morrem à mingua do socorro rápido porque hoje não há clínicos, há funcionários. Felizmente que nem todos assim agem e pensam. Em Lisboa, ouvi dizer a duas médicas, que aceitaram estar nos seus postos por... missão. Eu conheço um que recusa ser contabilista. Estou a pensar no Tó. Voilà como a medicina se transforma na mais humana, digna e ilustre profissão.


         - Há um ano, a esta hora, passeava pela Johannesgasse depois de na véspera ter assistido à Missa do Galo na catedral de Santo Estêvão. Aqui, nestes dias, instalou-se até ao adiantado da manhã, um nevoeiro fechado que nos mergulhava no enigma fantástico de um mundo de fantasmas e viúvas doidas. Não se via um palmo à frente do nariz. Íamos seguindo as oliveiras que demarcam as terras e depois, na estrada alcatroada, os riscos brancos que dividem o asfalto. Fomos à Missa da Noite ao Vaticano sem deixarmos o conforto da lareira acesa e da casa aquecida. Nem por isso o mistério da noite mais longa, foi menos intenso, menos vivido. Pascal dizia que Deus está por todo o lado, mesmo nos buracos da casa. Ele esteve aqui.