Segunda,
25.
Há
muitos anos que não tinha uma noite de Natal tão agradável e santa. Todos os
meus convidados juraram-me durante a ceia não terem praticado nenhum acto dos
muitos de que são acusados e até o Cardeal Patriarca de Lisboa disse que ama do
fundo do coração o Papa Francisco. Só Marcelo telefonou a dizer que não viria,
porque estava com uma senhora piela devido às ginjinhas que bebeu no Barreiro.
Que seita, hein!
- O tempo dos barões da medicina
julgava eu estava extinto. Enganei-me. O helicóptero de Évora teve que ser
deslocado para Lisboa por... falta de médicos! Nesta quadra natalícia, as
pessoas que tenham o azar de adoecer, morrem à mingua do socorro rápido porque
hoje não há clínicos, há funcionários. Felizmente que nem todos assim agem e
pensam. Em Lisboa, ouvi dizer a duas médicas, que aceitaram estar nos seus
postos por... missão. Eu conheço um que recusa ser contabilista. Estou a pensar
no Tó. Voilà como a medicina se
transforma na mais humana, digna e ilustre profissão.
- Há um ano, a esta hora, passeava
pela Johannesgasse depois de na véspera ter assistido à Missa do Galo na
catedral de Santo Estêvão. Aqui, nestes dias, instalou-se até ao adiantado da
manhã, um nevoeiro fechado que nos mergulhava no enigma fantástico de um mundo de
fantasmas e viúvas doidas. Não se via um palmo à frente do nariz. Íamos
seguindo as oliveiras que demarcam as terras e depois, na estrada alcatroada,
os riscos brancos que dividem o asfalto. Fomos à Missa da Noite ao Vaticano sem
deixarmos o conforto da lareira acesa e da casa aquecida. Nem por isso o mistério
da noite mais longa, foi menos intenso, menos vivido. Pascal dizia que Deus está
por todo o lado, mesmo nos buracos da casa. Ele esteve aqui.