quarta-feira, dezembro 20, 2017

Quarta, 20.
O salário mínimo vai passar para 580 euros. Os patrões não assinaram a proposta do Governo, os sindicados também não. Uns queriam que o Estado acabasse com aquela aberração chamada pagamento por conta dos lucros que as empresas não sabem se irão ter; os outros entendiam que 600 euros no próximo ano era mais do que justo. E nestas eternas guerras se vão os melhores anos daqueles que trabalham no limite da escravidão.

         - Os CTT vão despedir 800 funcionários. Depois de Passos Coelho, na sua fúria de vender aquilo que pertence à nação os privatizou, não cessaram de aumentar os preços e a qualidade do serviço está pelas ruas da amargura. Quem lucrou foram os accionistas. Como sempre. O ex-primeiro-ministro sabia, sabe disso, mas esteve-se nas tintas para os portugueses. Como sempre também.

         - Hoje tive aí dois trabalhadores. O nosso bombeiro, folgado e livre de horários, esbanja simpatia e tempo lesto. Não eram oito da manhã quando se apresentou ao portão. Acontece que eu deixei-me ficar entre lençóis porque me tinha deitado tarde e ele quando vem nunca chega antes das dez. Assim que me viu, disparou: “Já comi duas carcaças, uma caneca de leite com café, uma bica por cima.” Mas os olhos, transmitiam outros devaneios que não ouso alvitrar quais são. O camarada ao lado dele é sisudo. Apesar de andar pela sua idade, exibe uma barriga de mestre carpinteiro.

         - O português falado por damas e damos que são dependentes da TV: “Não seria espectável”, “Eu estou convicto”, “No que ao fogo diz respeito”, entre outro vocabulário de alguidar, exibido com orgulho e importância.


         - Valha-nos o dia fulgente e claro que hoje visitou a terra, as horas lá fora ao sol a ler, o espaço coberto do fumo e perfume das aparas que os dois homens queimam e introduz na atmosfera um miligrama a mais de aconchego e beleza, envoltos na memória que deles se aproveita para reinventar a felicidade.