Quarta,
20.
O
salário mínimo vai passar para 580 euros. Os patrões não assinaram a proposta
do Governo, os sindicados também não. Uns queriam que o Estado acabasse com
aquela aberração chamada pagamento por conta dos lucros que as empresas não
sabem se irão ter; os outros entendiam que 600 euros no próximo ano era mais do
que justo. E nestas eternas guerras se vão os melhores anos daqueles que
trabalham no limite da escravidão.
- Os CTT vão despedir 800
funcionários. Depois de Passos Coelho, na sua fúria de vender aquilo que
pertence à nação os privatizou, não cessaram de aumentar os preços e a
qualidade do serviço está pelas ruas da amargura. Quem lucrou foram os
accionistas. Como sempre. O ex-primeiro-ministro sabia, sabe disso, mas esteve-se
nas tintas para os portugueses. Como sempre também.
- Hoje tive aí dois trabalhadores. O
nosso bombeiro, folgado e livre de horários, esbanja simpatia e tempo lesto.
Não eram oito da manhã quando se apresentou ao portão. Acontece que eu
deixei-me ficar entre lençóis porque me tinha deitado tarde e ele quando vem
nunca chega antes das dez. Assim que me viu, disparou: “Já comi duas carcaças,
uma caneca de leite com café, uma bica por cima.” Mas os olhos, transmitiam
outros devaneios que não ouso alvitrar quais são. O camarada ao lado dele é
sisudo. Apesar de andar pela sua idade, exibe uma barriga de mestre
carpinteiro.
- O português falado por damas e damos
que são dependentes da TV: “Não seria espectável”, “Eu estou convicto”, “No que
ao fogo diz respeito”, entre outro vocabulário de alguidar, exibido com orgulho
e importância.
- Valha-nos o dia fulgente e claro que
hoje visitou a terra, as horas lá fora ao sol a ler, o espaço coberto do fumo e
perfume das aparas que os dois homens queimam e introduz na atmosfera um
miligrama a mais de aconchego e beleza, envoltos na memória que deles se
aproveita para reinventar a felicidade.