quinta-feira, junho 11, 2015

Quinta, 11.

Na minha errabunda de outro dia, percebi uma vez mais quanto bem fiz à minha mente e à minha saúde ter deixado de viver em Lisboa. Agora quando lá vou, é como se visitasse uma cidade estrangeira, os sentidos dispersos, o olhar pronto a admirar uma tessela, uma árvore, um prédio antigo que vi mil vezes sem nunca ter reparado nos acessórios decorativos da fachada... A dada altura, no final da nossa vagabundagem, Conceição e eu, sentámo-nos numa esplanada improvisada no início do parque, junto ao Marquês, para uma cerveja fresca. A conversa rumou em todas as latitudes, a canícula obrigando-nos a não deixar a cadeira onde o ruído era insuportável e onde a sonoridade dos nossos risos volatiliza num ápice. Estivemos ali um bom bocado. Quando depois levantámos amarras e cada um seguiu o seu caminho, senti o perigo que a cidade subtilmente introduz na saúde ou na falta dela. Penso na poluição de toda a ordem, no desgaste psicológico que provoca e naquela sensação enganadora que dá protecção a quem faz do tumulto amparo. Levantei-me com os ouvidos cheios da surdina que entorpece os sentidos e fui como sonâmbulo meter-me no metro que me devolveu ao silêncio de oiro que aqui reina. O contraste é de tal modo perturbador que felizmente é esbatido pela viagem que nos restitui a paisagem, o rio que nos protege, as árvores que nos resguardam, o ar que se respira, acomodando o corpo e a mente a um lugar onde a qualidade de vida é um luxo que os citadinos nem fazem ideia que existe.