quarta-feira, julho 15, 2020

Quarta, 15.
Ontem o grupo na esplanada era grande: António, Virgílio, Luísa, Castilho, João, Zé, Carlos e passo ocupando com largueza três mesas. Ao nosso lado, alguns turistas todos sem máscara, tossindo e espirrando sem qualquer protecção. A dada altura insurgi-me e, dirigindo-me a eles, ordenei-lhes que pusessem protecção. Olharam-me como se não percebessem ou eu fosse um polícia à paisana e, portanto, sem autoridade. Mas tanto barafustei que, a senhora sacou da carteira a máscara e colocou-a nas ventas, o homem bichanou numa língua que eu não pude entender, os do lado levantaram-se e foram à vida. Estes são o tipo de turistas que o Mágico adora, mas que vão lixar-lhe a mandato ou reduzi-lo a uns míseros votos. O coronavírus, vendo bem, foi criado pelo Chega. Ou foi por Xi Xinping ping ping? Entre um e outro, venha o diabo e escolha.

         - Mas a vida quotidiana de antigamente está praticamente instalada. Os comboios, metro e autocarros passam cheios, as lojas estão compostas, os centros comerciais não metem medo a ninguém, as negras ocupam, anafadas, os lugares reservados aos velhos, deficientes e grávidas. O Mágico do alto do palácio onde viveu Salazar, esfrega as mãos de contente. Pena a pedra no sapato da sua competência certos países persistirem em fechar os aeroportos aos exemplares portugueses governados pelo grande líder. Que chatice, a UE ser um clube de gente egoísta.

         - Estava eu a deliciar-me com um prato de linguiça de camarão e espargos no Corte Inglês, quando ouço chamar por mim. Era a Aidê que eu não via há uma data de anos. Encontrei-a, a ela e ao marido, na Turquia quando viajei com a Zitó pelo país já lá vão mais de vinte anos! Eles viviam aqui no “deserto da margem sul”, numa vivenda grande, com piscina, jardim e tudo o que atesta de uma vida bem sucedida. Pareciam um casal feliz, equilibrado. Mas não. Eu que nunca acreditei na fantasia do casamento e sempre achei que uma coisa é a fachada, outra a retaguarda, acabei, mais uma vez, de ver confirmada a minha impressão. Ela é professora, embora ande pelos cinquenta, parece uma miúda com aqueles cabelos fortes e maciços, aloirados (dantes eram pretos), corpo magro e bem trabalhado, sentido positivo da vida. Foi ela que me reconheceu porque eu se a visse na rua não reconheceria a amiga de outros tempos. Disse-me que eu estava na mesma, magro e bem parecido e acrescentou talvez de pensamento posto no ex, que os homens portugueses a partir dos trinta ficam redondos e desleixados, não interessando nem ao menino Jesus. Combinámos um almoço cá em casa com ela e os dois filhos (o rapaz de 30, a rapariga de 25) que com ela habitam numa pequena casa na Pinheiro Chagas – a rua onde morou o meu saudoso amigo Alexandre Ribeirinho.

         - Alguém com dois dedos de testa acredita que Ricardo Salgado irá parar com os costados à cadeia? Ou que o presidente do Benfica, com aquele seu ar de provinciano chico-esperto, será condenado por corrupção? Os jornais não falam nesta altura de outra coisa, mas uma é o que eles dizem para vender papel ou ganhar audiências, outra é a realidade nacional. Ainda se qualquer dos processos estivesse a cargo do juiz Carlos Alexandre!...

         - Todos os dias quando desço para tomar o pequeno-almoço e abro a porta para o pomar, tenho quatro gatos pretos esfomeados à minha espera. É assustador! A matriarca, assim que me vê, arreganha os dentes, violenta. Há pelo menos três semanas que não lhes falto com refeições três vezes ao dia e mesmo assim sua excelência abespinha-se. O próprio marido já não a reconhece nem aos filhotes, corre com eles. As duas crias que são muito bonitas, só se aproximarão quando a mãe as abandonar. “Penso eu de que...”


         - Manhã cedo regas. De seguida, arranque do escalracho em torno da tubagem dos skimers de forma a que estes não venham a sofrer com a invasão desta erva ruim. Meia hora de natação. Leituras. O trabalho de anteontem, foi destruído. Hoje terminei a manhã com 35 linhas ou seja 557 caracteres. Nada mau.