domingo, janeiro 24, 2016

Domingo, 24.
Ontem, passei uma hora empoleirado na laranjeira mais recôndita da casa, a colher os frutos maravilhosos que a foto documenta. Isto para não acontecer o que se passou no ano passado com a mesma árvore, atacada pelo apetite voraz das ratazanas que não me deixaram uma única peça para prova. Gosto de ver os frutos nas árvores, de admirar a beleza da cor, o contraste luminoso dos citrinos envoltos no verde das folhas e, no pressuposto que as ladronas não precisavam senão de uns decilitros de vitamina C, retardei em os apanhar. O resultado foi que não comi nenhuma das belíssimas e saborosas laranjas que tenho a fraqueza de dizer serem as melhores de Portugal. Desta vez, adiantei-me e vendo-as matreiras trepar à árvore, tomei a decisão de a despir completamente.




         - Esta manhã, pus pés ao caminho, melhor dizendo rodas à estrada, e fui visitar a feira da Moita. Há anos que não o fazia e desta vez fui na companhia do meu saudoso vizinho Ti Luís que me pedia no quarto domingo do mês para o lá levar, a ele e à Lurdes sua mulher. Foi como se caminhasse ao seu lado, rindo e chalaçando por tudo e por nada, naquele seu jeito reservado e maravilhoso que tanto o fazia credor de estima. O dia estava, enfim, soberano de luz. No ar cirandava um leve perfume a Primavera e por todo o lado, o povo exibia o rosto festivo de quem se levantou cedo da cama. Sendo dia de eleições, por aqui e por acolá, as mulheres e os homens trajando os seus fatos domingueiros (nestas vilas ainda se observam as tradições), misturavam-se no emaranhando das tendas dos feirantes, cestas e sacos de plástico nas mãos, contrastando com o seu ar empinocado de quem acabou de chegar da missa do meio-dia ou do casamento da neta mais velha. A zona das aromáticas e das flores, eram as mais frequentadas, embora os meus olhos tivessem descaído de espanto ante a beleza das vergas – cadeiras, cestos, baús, mesas – como se fazia antigamente. Ali encontra-se o inimaginável e tudo me recorda as feiras da minha adolescência ou a Feira da Ladra onde costumava ir quando vivia em Lisboa. Não precisamos de ser agricultores de canudo ou horticultores de geração, jardineiros de curso superior ou cozinheiro de síntese. Bastar seguir o olhar ao correr das bancas, fazer duas ou três perguntas ao vendedor, para sermos os melhores e mais aficionados seguidores dos produtos sazonais e biológicos.