domingo, janeiro 10, 2016

Domingo, 10.
Foi premonitório a conclusão do Fernando quando no respaldo do nosso encontro, lhe contei a génese do meu romance O Rés-do-Chão de Madame Juju: “É muito giro o título. A Madame Juju recebe clientes!” Esta conclusão do meu antigo camarada de jornalismo, remete-me para aquela outra do meu saudoso Alexandre Ribeirinho que durante uns vinte anos de cada vez que nos encontrávamos, perguntava: “Então, Helder, a Madame Juju já está a receber visitas?” Outro dia, o António Carlos Carvalho que foi quem me convidou, ainda jovens, a entrar no Primeiro de Janeiro onde debutei os anos primeiros do jornalismo, disse quase o mesmo. Fernando gostou da catedral romanesca do meu trabalho e, por essa e por muitas outras razões, é que eu estou apostado em me bater por uma obra onde ensaiei traçar um fresco da sociedade portuguesa actual. Outra coisa. O meu amigo, tem sempre aquele ar longânime de quem está em oração e não presta atenção ao que ouve. Como o conheço bem, sei que não é bem assim e a prova está nesta observação. A dada altura, en passant, conto-lhe que Madame está um serão a ver televisão em casa do vizinho José Tormentoso. No ecrã debita no seu jeito conhecido Natália Correia por quem Dacosta tem um apreço especial. Tormentoso, vendo-a tão vidrada nas palavras da Poetisa, pergunta-lhe o que acha do que ouve. Resposta: “A senhora fala bem. Parece a governanta de uma casa de meninas.” Fernando ri-se e diz: “Muito curioso.” Eu acrescento: “Creio que a Natália gostaria de ouvir esta constatação da minha heroína. – Absolutamente, conclui Fernando.”


         - Os dez candidatos ao “mais alto cargo da nação” estão em campanha. Até onde me é dado perceber, é um lavar de roupa suja pessoal. O passado, o presente e o futuro chega-nos pela porta larga do que cada um diz que fez e o outro diz que não fez, das causas que cada um apoiou e o adversário diz que é mentira, todos num confronto indecente e deselegante, que vai pôr em Belém a sombra da abstenção. Os políticos, na sua obsessão pelo poder, não aprendem a lição que os portugueses repetidas vezes lhes deram. Até quando?