terça-feira, março 07, 2017

Terça, 7.
Ontem, ao fim tarde, quando as nuvens empurraram o resto de sol que ficou suspenso nos ramos das árvores, vinda de um mundo inanimado, uma profunda e dolorosa nostalgia de Paris. Sentia um aperto no peito, um cansaço no fundo da retina, um desfalecimento que me tolhia os membros – braços e pernas – e obrigava o cérebro e os olhos a cerrarem como persianas, revi pela enésima vez o vídeo que evoca a cidade e Gabriel García Márquez, pela maestria de um trabalho pontuado pela voz e o poema do inconfundível de Charles Aznavour.

         - Nenhum médico algum dia conseguiu explicar-me por que me tomo eu de intenso cansaço e desmotivação com a chegada da Primavera. Tudo em mim entorpece, o cérebro entra em fadiga espessa como nevoeiro compacto, uma neurastenia instala-se, faltam-me as forças, ando desmotivado, vagueio pelos cantos da existência como alguém que está a mais em todo o lado e arrasta os pés como um condenado à morte. Sempre assim foi e só um composto vitamínico me recompõe. Não tenho vida para carregar este fardo, os afazeres são muitos, os impulsos da existência também, e eu restringido a ver passar o melhor dos dias ao balcão do vazio. Que tristeza, Santo Deus!


         - Contudo, a vida tem de continuar, é próprio dos solitários não se atrasarem no encontro com a diversidade. Assim, esta manhã, prossegui na pesquisa que me levará a enriquecer O Juiz Bernardo (título provisório) o romance que entrou de rompante empurrando O Matricida para fora das minhas preocupações. Fui à piscina, dei um salto ao Fortuna. Abracei o dia cintilante lavado de quimeras.