Terça, 7.
Ontem,
ao fim tarde, quando as nuvens empurraram o resto de sol que ficou suspenso nos
ramos das árvores, vinda de um mundo inanimado, uma profunda e dolorosa
nostalgia de Paris. Sentia um aperto no peito, um cansaço no fundo da retina,
um desfalecimento que me tolhia os membros – braços e pernas – e obrigava o cérebro
e os olhos a cerrarem como persianas, revi pela enésima vez o vídeo que evoca a
cidade e Gabriel García Márquez, pela maestria de um trabalho pontuado pela voz
e o poema do inconfundível de Charles Aznavour.
- Nenhum médico algum dia conseguiu
explicar-me por que me tomo eu de intenso cansaço e desmotivação com a chegada
da Primavera. Tudo em mim entorpece, o cérebro entra em fadiga espessa como
nevoeiro compacto, uma neurastenia instala-se, faltam-me as forças, ando
desmotivado, vagueio pelos cantos da existência como alguém que está a mais
em todo o lado e arrasta os pés como um condenado à morte. Sempre assim foi e
só um composto vitamínico me recompõe. Não tenho vida para carregar este fardo,
os afazeres são muitos, os impulsos da existência também, e eu restringido a
ver passar o melhor dos dias ao balcão do vazio. Que tristeza, Santo Deus!
- Contudo, a vida tem de continuar, é
próprio dos solitários não se atrasarem no encontro com a diversidade. Assim,
esta manhã, prossegui na pesquisa que me levará a enriquecer O Juiz Bernardo (título provisório) o
romance que entrou de rompante empurrando O
Matricida para fora das minhas preocupações. Fui à piscina, dei um salto ao
Fortuna. Abracei o dia cintilante lavado de quimeras.