Domingo,
5.
François
Fillon foi a grande desilusão. Afirmou há um mês que no momento em que fosse
constituído arguido no processo dos dinheiros ganhos pela mulher e os filhos à
conta dos contribuintes, desistiria de concorrer às eleições presidenciais. Deu o
dito pelo não dito. Até aqui tudo normal, é o que fazem todos os seus pares, em
França como em Portugal e noutros países. Quer-me parecer que a Madame Le Pen
subiu mais uns degraus para o Eliseu.
- O meu amigo Couto, durante muito tempo,
sendo leitor atento destas páginas, dizia que eu era anarquista. Há dias, em
conversa telefónica, acrescentou um pormenor que nos diferencia e de que
maneira: o seu credo de advogado, leva-o a considerar a lei acima do cidadão.
Ele e os simples funcionários da câmara daqui, dizem um uníssono: “É a lei.”
Portanto, cidadão honesto e trabalhador, pagador de impostos e dos altos
salários da nobreza democrática governativa cala-te, reduz-te à tua
insignificância. Mas Couto disse mais qualquer coisa que me enche de esperança:
“Estou em desacordo contigo em muita coisa.” Helder, heroico combatente, não
esmoreças: estás no bom caminho! Contudo, talvez quem tenha razão é Gonçalo M.
Tavares quando adianta: (...) “diga-se ainda que as discussões universais são
sempre discussões particulares. Cada qual está debruçado sobre o seu mundo em
parapeito frágil. E nem mesmo os imbecis têm fisionomias colectivas. Cada país é
um pormenor que cada habitante utiliza como melhor lhe convém e como a lei
permite”. Viagem à Índia, pág. 40,
Ed. Caminho.
- O Público de hoje, sendo
aniversariante, passou a palavra a Miguel Esteves Cardoso. Eu até simpatizo com
o solitário de Sintra, mas repugna-me que ele tivesse elegido como modelo, um egoísta
que afirma: “Conheço músicos incríveis, farto-me de viajar, sou respeitado. Mas
não sou nenhum filantropo, faço para mim e tenho uma vida boa.” Esta posição é
a do patronato português e, sobretudo, dos grandes patrões que são incapazes de
partilhar a riqueza com o país e as pessoas. São abastados porque têm um harém
de trabalhadores pagos à jorna por uma miséria. No tempo da troika, o números
de ricos aumentou e os pobres passaram de um milhão para o dobro.
- Saí das páginas do livro de Gunter
Grass com vontade de voltar ao princípio. Que grande escritor descobri eu! Que
fantasista, humanista, humorista, atento observador da História, trabalhando a
palavra com desenvoltura, arriscando nela o seu passado, multiplicando o riso e
o sofrimento, não tendo, inclusive, pejo em dizer que não conhece a língua com
suficiente consistência para não dar erros ortográficos! Um homem destes é um
monumento que mereceu sem contestação o Prémio Nobel. Mas vou continuar com
ele. Já comprei o seguimento desta autobiografia narrada em A Caixa.
- A Primavera, indiferente ao clima e aos catedráticos da meteorologia, já chegou a estas paragens abençoadas.
- A Primavera, indiferente ao clima e aos catedráticos da meteorologia, já chegou a estas paragens abençoadas.
A exuberante ameixoeira |
O anárquico jardim |
A beleza da amendoeira em flor |