quinta-feira, janeiro 26, 2017

Quinta, 26.
Ontem saí para corresponder ao convite de Fr. Hélcio para um almoço. Quando cheguei à Avenida da Igreja, deparo-me com um doente tossindo, lacrimejando, fungando e com aspecto moribundo. Fugi espavorido aconselhando-o a fechar-se em casa e na cama de forma a não espalhar o vírus por todo o lado. Dali fui ao encontro do Carlos Soares também atacado da borracha gripal. Não só ele como igualmente a Alice, o Corregedor e não sei mais quem. Livre, portanto.

         - Voei para o Corte Inglês para ver Zeus. Em boa hora, porque o filme de Paulo Filipe Monteiro é inspirado, comovente, talvez um pouco disperso na acepção do que verdadeiramente o realizador nos pretende transmitir. Sinde Filipe no papel de Manuel Teixeira Gomes, é convincente e oferece-nos uma representação firme que se estende do período em que a personagem foi Presidente da República, a fuga para Argélia e a morte (1923-1941) num trabalho de desconstrução correcto. Quanto ao estudo do escritor e político, julgo que não se podia dizer mais no objectivo do filme. Está lá toda a complexidade do homem, perseguido no seu interior pela homossexualidade, mas incapaz de esquecer a beleza e o amor quando consentido em liberdade e partilhado. Para não falar nos motivos que o levaram a zarpar do posto, farto de aturar os políticos e os seus jogos de poder, o seu cinismo e a mesquinhice e mediocridade que os acompanha de então até hoje. No fim da vida, sempre de olhar toldado pela beleza masculina, Teixeira Gomes encontra no criado do hotel onde se hospedou a realização de um ideal que o levou a desabafar: “A amizade é uma forma de amor.” Eu diria antes: a amizade é a mais profunda forma de amor. Terminado o filme, comprado o jantar, desancorei para casa de forma a chegar a tempo de ver na 2 francesa o programa Des Racines & des Ailes.  

         - No hotel que foi soterrado em Itália pela avalanche de neve, continuam os esforços para encontrar vida. Resgatados foram já uns quantos. Contudo, a desgraça parece ter chegado para ficar e ontem um helicóptero caiu quando tentava acudir a um acidentado numa estância de esqui perto da zona do hotel. Morreram os seis socorristas.

         - Em França, naquelas que os socialistas definem por “primárias”, a grande surpresa foi a vitória de Benoît Hamon que ultrapassou largamente o nervoso Manuel Valls. Ambos encontraram-se no miserável governo de François Hollande, ambos se detestam, ambos são ambiciosos, ambos são sentinelas do partido. Depois admiram-se que Madame Le Pen seja a preferida dos franceses. A França vai de mal a pior. Como, de resto, a Europa e o mundo.


         - Chove... enfim!