Terça, 24.
Aqui
deixo à reflexão dos meus leitores este maravilhoso texto escrito por Julien
Green e que está gravado em mármore na sua capela mortuária em Klagenfurt, na Áustria.
Se eu estivesse só no
mundo,
Deus teria feito
descer o seu Filho unigénito
Para que Ele fosse
crucificado e assim me salvasse.
Eis um estranho
orgulho - direis.
Não creio que tal ideia
Tivesse atravessado
mais do que uma cabeça cristã.
Quem, portanto, O julgou,
Condenou, golpeou e O
crucificou?
Não duvidem um segundo
- fui eu.
Fui eu que tudo fiz.
Cada um de nós pode
dizer a mesma coisa,
Todos tal como somos e
em todos os cantos do mundo.
Se é preciso um judeu
Para Lhe cuspir no
rosto
Eis-me aqui.
Um funcionário romano
para O interrogar,
Um soldado para O torturar
com desprezo,
Um homem cruel para O
fixar com pregos na cruz
A fim de que Ele aí
fique até ao fim dos tempos,
Esse serei ainda eu,
sei fazer tudo isso se necessário for.
Um discípulo para O
amar,
Eis o mais doloroso de
toda esta história.
O mais misterioso
também.
Porque, enfim, Tu
sabes bem
Que esse serei eu.