quarta-feira, setembro 14, 2022

Quarta, 14.

A gente pasma, encolhe os ombros e disfarça como pode. Estamos abandonados à nossa sorte e só imploramos a Deus nos proteja do pior. Porque o mal já o temos por penitência diariamente. A patetice de políticos que nos coube na rifa da farinha amparo da democracia, cambada de gente vinda não se sabe de onde, mal preparada, obcecada pelo poder, rafeira cheirando o perfume que o dinheiro possui e é nauseabundo, temo-los vaidosos, arrogantes, pimpões, a falar barato e mal todos os dias nas televisões, num coro de idiotas em uníssono clamando tudo e o seu contrário. Olhe-se para o exercício de rins a que obrigam milhares de consumidores de energia a fazer, com a transferência dos contratos dos fornecedores de preços livres para a EDP com preços fixos. Para que serviu criar estas empresas diversificadas dando ao consumidor a ilusão de que poupava, para agora o empurrar de novo para a EDP? Suponho que esta tramoia  é obra do tempo de Passos Coelho, e a verdade aí está a desdizer o logro em que caíram milhares de clientes. O mercado livre tão caro aos capitalistas, é uma arma de arremesso ao consumidor desprevenido ou crente na livre circulação dos interesses financeiros – mas então não se queixe. Um conselho pelo menos aos meus leitores: desconfie de tudo o que lhe chega desse mundo sinistro que como aranha gigante o pretende prender. Por outro lado, se a Europa está no estado em que se encontra, é culpa dos governantes que por ganância e promessas vãs, se entregaram nos braços da Rússia comprando-lhe confiadamente petróleo e gás, olvidando o regime e os laços criminosos e rios de corrupção que tentacularmente cruzavam um lado e outro do continente. A este milagre económico, junta-se a constante mudança das normas tidas por divinas, como é o caso da fórmula anual para o aumento de salários, pensões e reformas.  

         - Zelensky vibrou com a conquista a Sul de mais 8.000 quilómetros quadrados a Putin. A pouco e pouco os ucranianos vão reconquistando aquilo que lhes pertence. Resta Zaporíjia como vulcão pronto a explodir se não houver tino da Rússia e Ucrânia. 

         - Por aqui me quedo todo o dia, ouvindo a chuva cair de manso por entre os tímidos raios de sol. Ajudado pela droga que a médica dita de família me receitou e eu tomei ontem ao deitar o primeiro comprimido, a manhã aconteceu sob os auspícios do equilíbrio e serenidade. Mas não devia porque só consegui conciliar o sono pelas quatro da madrugada. Não sei que razão houve para o desastre, sendo certo que o Triticum foi concebido para sonos profundos e prolongados. Caído no meu organismo pouco dado a porcarias este reagiu, fulo e revoltado, combatendo o invasor – mas quem pagou fui eu. Farei a segunda experiência hoje; se a rebelião continuar, abandono o curandeiro. 

         - O eterno funeral da rainha Isabel II não pára. A urna salta de carro funerário para avião, de país para país, de cidade para cidade, de catedral para catedral num virote que a pobre defunta só conhecerá o descanso final lá para segunda-feira. Parece irreal, algo saído de um filme que só tem densidade e espectadores no Reino Unido. As ruas serpenteiam de público, choroso, respeitador, a televisão delira com o delírio dos súbditos de sua Majestade.  Este é talvez o derradeiro espectáculo do século.