quarta-feira, setembro 21, 2022

Quarta, 21.

Desde que começou a invasão da Ucrânia que pensei dificilmente escaparíamos de uma terceira guerra mundial. Nessa altura já tinha a percepção do louco que habitava o Kremlin e do sistema político que ele havia estabelecido na Rússia. O tempo passou, o país invadido, utilizando a inteligência e o orgulho nacionais, progrediu e obrigou o Ocidente e os Estados Unidos a olhá-lo com a consideração que merece. Sete longos meses de horror passaram, milhares de mortos, cidades reduzidas a escombros, famílias separadas, crianças mortas, êxodo e desespero para milhões de seres humanos. Na origem disto tudo, um só homem protegido por umas quantas luminárias fardadas. A idiota guerra aí está a intensificar-se e desde as primeiras horas da manhã de hoje, após discurso gravado do ditador, e os muitos revezes no campo de batalha, foi imposta a mobilização militar parcial para cidadãos que estejam hoje na reserva, e militares que serviram nas Forças Armadas, num total previsível de 300.000 homens. O criminoso, não deixou de brandir com as armas nucleares que promete utilizar se se vir atacado pela NATO seu principal inimigo. Disse-o várias vezes dirigindo-se à NATO: “Não é bluff.” “Quem tentar fazer chantagem nuclear deve saber que os ventos podem mudar de direcção para o seu lado.” Biden, respondeu: “Dont´t. Dont´t. Don´t.” E assim vamos vivendo.

         - Eu não me importo de morrer pela filosofia. Ontem fui à Fnac levantar o livro de Jeanne Hersch L´étonnement philosophique. Abrindo-o no capítulo sobre Santo Agostinho, deparo com este pensamento luminoso que me deixou paralisado: “La fatalité a quelque chose de rigide, de fixé d´avance, alors que la prédestination se réfère a une origine divine, présente en tout temps, et qui n´est pas impersonnelle. Le Dieu d´Augustin, c´est le Dieu vivant, inimaginable, auquel il croit et qui lui est plus intérieur que lui-même.” E mais adiante: “C´est la vie même de Dieu dans l´éternité qui engendre, dans l´éternité, cette prédestination – ou plutôt c´est que nous nommons ainsi, en y réintroduisant malgré nous, mais selon notre nature, la temporalité.” Ufa! Ufa! Isto promete. 

         - Deve ter chovido toda a noite, eu durmo agora directo sete horas. Não sei se devo esta tranquilidade de toda uma vida ao Triticum, se aos ciclos de joão-pestana que vêm e vão nestes derradeiros dois anos. Porque para adormecer nunca precisei de contar moscas ou cordeiros, caio à cama e em cinco minutos entro noutro mundo. Por isso, fico sem saber se a droga me prolonga o sono, se o sono está em bom ciclo comigo. Saramago, às vezes, falando da idade que avançava, dizia-me que com os anos tinha dores intermitentes no corpo, “até que um dia se instalem de vez”, concluía. 

         - E por fim a pobre rainha Isabel II encontrou o sossego eterno. Andou uma semana a subir e a descer do pedestal com os seus restos mortais para ser venerada pelos seus súbditos e líderes mundiais que a Londres chegaram com ar satisfeitos e por vezes divertidos. Quem não foi convidado para o espectáculo da morte, foi Vladimir Putin. Esta desconsideração, sentiu-a no corpo e disfarçou-a com dificuldade. Até porque a morte é o seu divertimento diário. O enorme e criminoso desprezo que tem pela vida humana, só o satisfaz quando na Terra inteira só ele viva. Ele e os jagunços oligarcas, generais e lambe botas que o mantêm.