Segunda, 11.
Anoto
para o romance com esta ou outra construção verbal: Os segredos guardam-se
devido à curiosidade perversa daqueles que os querem destapar.
- Um forte sismo sacudiu o México
causando uma centena de mortos e imensos prejuízos. A Terra parece andar a
vingar-se daqueles que a habitam explorando-a até à medula. Depois dos
furacões, das chuvas diluvianas, dos ventos ciclópicos, eis que nos chega este
grito na forma cavernosa de um estrondo mortífero. A Flórida (eu aprendi assim
e não Florida) onde o Irma já chegou, milhões de pessoas foram obrigadas a
fugir. É impressionante como a Natureza possui o poder de desarranjar a vida na
terra, a mesma que o homem tem hoje a jactância de dominar e conhecer em todos
os seus segredos e mistérios.
- Nas Antilhas francesas Saint-Martin
e Saint-Barthélemy partilhadas com os holandeses, depois da passagem do
tenebroso furacão que arrasou literalmente tudo, chegaram as seitas de
ladroagem a pilhar o que encontram sob os escombros de lágrimas e sofrimento
dos seus proprietários. A natureza humana é tão pérfida que só a cultura a pode
diferenciar e purificar.
- Os portugueses estão condenados a
serem governados por um mundo de gente em permanente papotages e querellas. Que
infelicidade a nossa!
- Cada vez concordo mais com Aquilino
Ribeiro quando dizia que a escrita era o seu tricot que levava para todo o
lado. Comigo passa-se o mesmo. Este tricot que vou construindo todas as manhãs
e fica pelo dia fora em tumultos imprecisos a perturbarem-me de quando em vez o
cérebro, arrasta-me para tão longe, Santo Deus!... Esta manhã surgiu em jactos,
frutuosos, cheios, como se a minha cabeça despejasse por magia as palavras
sobre a folha do computador. Genuíno estado de graça, quase êxtase, língua de
fogo, prumo de luz. Se a loucura que eu temo descer desta combinação viçosa de
beleza, dá-me ideia que estou pronto para me atirar inteiro nos seus
braços.