segunda-feira, setembro 11, 2017

Segunda, 11.
Anoto para o romance com esta ou outra construção verbal: Os segredos guardam-se devido à curiosidade perversa daqueles que os querem destapar.

         - Um forte sismo sacudiu o México causando uma centena de mortos e imensos prejuízos. A Terra parece andar a vingar-se daqueles que a habitam explorando-a até à medula. Depois dos furacões, das chuvas diluvianas, dos ventos ciclópicos, eis que nos chega este grito na forma cavernosa de um estrondo mortífero. A Flórida (eu aprendi assim e não Florida) onde o Irma já chegou, milhões de pessoas foram obrigadas a fugir. É impressionante como a Natureza possui o poder de desarranjar a vida na terra, a mesma que o homem tem hoje a jactância de dominar e conhecer em todos os seus segredos e mistérios.

         - Nas Antilhas francesas Saint-Martin e Saint-Barthélemy partilhadas com os holandeses, depois da passagem do tenebroso furacão que arrasou literalmente tudo, chegaram as seitas de ladroagem a pilhar o que encontram sob os escombros de lágrimas e sofrimento dos seus proprietários. A natureza humana é tão pérfida que só a cultura a pode diferenciar e purificar.

         - Os portugueses estão condenados a serem governados por um mundo de gente em permanente papotages e querellas. Que infelicidade a nossa!


         - Cada vez concordo mais com Aquilino Ribeiro quando dizia que a escrita era o seu tricot que levava para todo o lado. Comigo passa-se o mesmo. Este tricot que vou construindo todas as manhãs e fica pelo dia fora em tumultos imprecisos a perturbarem-me de quando em vez o cérebro, arrasta-me para tão longe, Santo Deus!... Esta manhã surgiu em jactos, frutuosos, cheios, como se a minha cabeça despejasse por magia as palavras sobre a folha do computador. Genuíno estado de graça, quase êxtase, língua de fogo, prumo de luz. Se a loucura que eu temo descer desta combinação viçosa de beleza, dá-me ideia que estou pronto para me atirar inteiro nos seus braços.