domingo, setembro 24, 2017

Domingo, 24.
A hora é das independências. Os curdos  reclamam-na, os catalães também. Todos têm as suas razões e legitimidades. No caso dos primeiros, absolutamente natural, é mal vista pelas Nações Unidas, os mesmos países que antes a apoiavam. E percebe-se porquê. Quando estive na Turquia a única coisa que me impediram de falar, foi nos curdos. São uma ameaça para os países limítrofes onde a norte vivem milhares de falantes da mesma língua e origens. A sua ramificação para esses territórios contíguos será inevitável. Além de que o Daesh já por lá andou e eles conseguiram escorraçá-los, com com a mesma determinação suportam o Iraque e a Turquia. Se se operar a independência, toda a região vai ser abalada com um forte tremor de terra político, social, económico. O mesmo se passará com a Catalunha. Nada será como antes e a valentia dos catalães enfrentará a supremacia que lhe impõe Madrid.

         - Espera-se a vitória da senhora Merkel nas eleições de hoje. Neste compasso de espera, Chou Chou levantou a cabeça com umas quantas ideias mal alinhavadas que só enganam os distraídos como o nosso caríssimo Vicente Jorge Silva. Seja como for, mil vezes ela, que o socialista (curiosa a correcção que faz a Alemanha definindo-o por social-democrata, como eu já diversas vezes quis que passassem a ser chamados os socialistas de cá) Schulz.

         - Há dias questionei ao meu médico se tinha diabetes e acrescentei: “Pergunto-lhe porque a minha irmã padece horrores por causa da doença.” Resposta: “Você não tem ar de quem tem diabetes, parece-me uma pessoa muito activa. – Bem, talvez seja se descontarmos três horas todos os dias sentado de manhã e outra à tarde a trabalhar no crochet.” Sorriu. Todavia, pelo sim, pelo não, vou fazer análises. A propósito, consegui, enfim, estabilizar nos 64 quilos!   

         - Esta manhã fui dar uma volta ao mercado da Moita. Que prazer! O dia acordou deslumbrante, com um suave sol outonal, o céu de um azul turquesa e uma quietude que abafa todas as iras e desesperanças. Comprei um quilo de nozes (duas por dia evitam o colesterol), dois vasos de alfazemas, o Público e um café na velha instituição em frente à câmara. O tempo parou por lá. São ainda as conversas de antanho, os homens, as vestes, a pele trigueira, o ar bonacheirão que esconde a malícia que o olhar denuncia. Tudo tão perto da capital e tão longe! Quantas gerações vão ser necessárias para modificar o português médio, afeiçoado ao salazarismo e à igreja que o moldou em pedra e cal. Os instalados nas cadeiras do poder e dos partidos, nas multinacionais e nos escritórios fantasmas da advocacia pós-25 de Abril, dizem-nos que Portugal mudou muito. Quem cambiou foram eles: estão muito mais abastados, inchados de poder, abastecidos de paleio ronceiro, arrotando postas de modernidade trazia dos fundos dos mares lodacentos onde eles são reis e senhores da mediocridade.  


         - Leio no Público que um senhor economista escocês, de nome Gregory Clark, afirma que boa notícia é que “no longo prazo, todos tendemos para a igualdade”; enquanto a má notícia “é que o longo prazo demora 300 anos”. Ainda bem, digo eu.