Quarta, 6.
Cálculo
do desastre provocado pela passagem do vulcão Harvey: Texas: 60 mortos
entretanto contabilizados e 200 mil milhões de prejuízos. Outro furacão vem já a
caminho.
- Fui da Estrela a pé até ao Rato,
Escola Politécnica, Príncipe Real, Chiado ao encontro do João Corregedor e dos
demais. Não almocei com eles porque tinha um rendez-vous marcado com a Alzira por um momento anulado e depois
retomado devido à hesitação do nosso deputado, acabando em duas sandes e dois
dedos de conversa. Tudo em maratona porque os meus amigos esperavam-me no
Príncipe para dali seguirmos juntos em visita ao Virgílio no hospital de Santa
Marta. Encontrámos o nosso escultor muito melhor, com alta amanhã, e a suportar
uma longa conversa connosco, quero dizer: João, Alexandre, Carlos, Gordilho e
eu nem sempre sequencial, ainda assim já corrente. Deixei o clã e segui com o
Irmão Avenida da Liberdade abaixo para apanhar o metro. Mas a conversa virou
muito agradável e os temas saltavam com naturalidade e gula de parte a parte. Propus-lhe
que fôssemos andando. A tarde estava quente, os lisboetas e turistas refastelados
nas esplanadas, um mundo saltitante atraía-me e subjugava a minha curiosidade.
Andemos pois. A dada altura o Carlos quis que entrássemos na igreja de S.
Domingos. Que surpresa iria eu ter! A melhor e mais inesperada. O Santo António
que está no segundo altar do lado esquerdo do templo, é obra dele. Eu
explico-me. Foi ele que reconstruiu o rosto do santo em pedra de Ançã pintada como era
uso no século XVII de onde a imagem vem, e segundo a Escola de Alcobaça, mas também as mãos do padroeiro. O
curioso, observei-lhe eu, é que a peça é nitidamente uma obra popular de
concepção e o que ficou de original é o rosto anafado do Santo e o sorriso,
assim como o olhar divertido do cúmplice dos namorados. O corpo da imagem é em barro. De seguida
retomámos a marcha com um breve intervalo para uma cerveja. Perto do Terreiro
do Paço, Carlos conta-me que quem ateou fogo à célebre igreja, foi Mário Soares
e os seus compinchas. Espanto meu que nunca ouvira dizer tal coisa. “Sim. Ele
próprio disse quando chegou a Portugal, afirmando que praticou o crime para
provar que em Portugal havia fascismo.” Despedimo-nos junto aos barcos com “um chi-coração” como ele gosta de dizer em adeus. Embarquei no Fernando Pessoa com tantos
passageiros àquela hora que uma boa parte deles viajou de pé. E por falar
nisso, grande foi o dia... cum jambis.