quarta-feira, setembro 06, 2017

Quarta, 6.
Cálculo do desastre provocado pela passagem do vulcão Harvey: Texas: 60 mortos entretanto contabilizados e 200 mil milhões de prejuízos. Outro furacão vem já a caminho.


         - Fui da Estrela a pé até ao Rato, Escola Politécnica, Príncipe Real, Chiado ao encontro do João Corregedor e dos demais. Não almocei com eles porque tinha um rendez-vous marcado com a Alzira por um momento anulado e depois retomado devido à hesitação do nosso deputado, acabando em duas sandes e dois dedos de conversa. Tudo em maratona porque os meus amigos esperavam-me no Príncipe para dali seguirmos juntos em visita ao Virgílio no hospital de Santa Marta. Encontrámos o nosso escultor muito melhor, com alta amanhã, e a suportar uma longa conversa connosco, quero dizer: João, Alexandre, Carlos, Gordilho e eu nem sempre sequencial, ainda assim já corrente. Deixei o clã e segui com o Irmão Avenida da Liberdade abaixo para apanhar o metro. Mas a conversa virou muito agradável e os temas saltavam com naturalidade e gula de parte a parte. Propus-lhe que fôssemos andando. A tarde estava quente, os lisboetas e turistas refastelados nas esplanadas, um mundo saltitante atraía-me e subjugava a minha curiosidade. Andemos pois. A dada altura o Carlos quis que entrássemos na igreja de S. Domingos. Que surpresa iria eu ter! A melhor e mais inesperada. O Santo António que está no segundo altar do lado esquerdo do templo, é obra dele. Eu explico-me. Foi ele que reconstruiu o rosto do santo em pedra de Ançã pintada como era uso no século XVII de onde a imagem vem, e segundo a Escola de Alcobaça, mas também as mãos do padroeiro. O curioso, observei-lhe eu, é que a peça é nitidamente uma obra popular de concepção e o que ficou de original é o rosto anafado do Santo e o sorriso, assim como o olhar divertido do cúmplice dos namorados.  O corpo da imagem é em barro. De seguida retomámos a marcha com um breve intervalo para uma cerveja. Perto do Terreiro do Paço, Carlos conta-me que quem ateou fogo à célebre igreja, foi Mário Soares e os seus compinchas. Espanto meu que nunca ouvira dizer tal coisa. “Sim. Ele próprio disse quando chegou a Portugal, afirmando que praticou o crime para provar que em Portugal havia fascismo.” Despedimo-nos junto aos barcos com “um chi-coração” como ele gosta de dizer em adeus. Embarquei no Fernando Pessoa com tantos passageiros àquela hora que uma boa parte deles viajou de pé. E por falar nisso, grande foi o dia... cum jambis.