quarta-feira, agosto 16, 2017

Quarta, 16.
Em Vilar do Tomo, Lousada, o andor das festas da Senhora da Aparecida, com 22,5 metros de altura e 1,5 tonelada de peso, desfez-se e caiu ferindo sete pessoas. Os habitantes de lá, ignorantes, acham que a Senhora aprecia aquele espectáculo que teve entrada no livro dos horrores e era considerado com orgulho pacóvio “o maior andor do mundo”. Acontece que não foi o andor que ruiu, foi a Senhora da Aparecida que sofrendo de vertigem, se atirou dele abaixo. A Igreja alimenta sempre a idiotice, julgando que assim conserva em seu seio o pagode.

         - Por queda. Que dizer do carvalho de grande porte que tombou ontem no Funchal matando 13 pessoas de várias nacionalidades e ferindo quase meia centena! Marcelo que estava de férias no Algarve, meteu-se num avião da Força Aérea e à tarde já estava a confortar os feridos e a animar os familiares dos falecidos. Quando nos lembramos da ave agourenta que não saía de Belém, este homem cumpre cabalmente as funções para as quais o povo o elegeu. É o modo francês e alemão de presidência. Dito isto, entre nós, tudo é matéria para o jogo do toca e foge. Um morador perto do local, disse que já tinha alertado a câmara há vários anos com correspondência e protestos presenciais para a possibilidade do desastre e ninguém lhe ligou nenhuma. Na altura o responsável autárquico era o actual Presidente de Madeira, actor de filmes indianos, que já veio dizer que é tudo mentira, que a árvore estava de boa saúde. Não sei porque se dá ao trabalho o homem de desdizer os madeirenses. Mesmo que tivesse sido ele o responsável pelo desastre, não lhe acontecia nada. Um inquérito de certeza será aberto, mas os culpados não são encontrados. É sempre assim neste jardim à beira-mar plantado.


         - Depois do almoço fui à Biblioteca Nacional ver a exposição retrospectiva do pintor António Carmo. Não me embalou à parte os desenhos que me pareceram mais originais. Todavia, logo que cheguei, reconheci o senhor da foto que está à entrada da biblioteca num cavalete: Alexandre Cabral. O meu querido e saudoso Alexandre Cabral! Demorei uma boa meia-hora a percorrer a exposição da sua Vida e Obra, mas também a identificar muitos dos seus livros, dos seus estudos, dos diários. Privámos durante anos na Latina onde ele tinha gabinete ao lado do meu, fomos juntos no seu carro ao Porto para ele assinar o contrato de publicação de um livro e satisfeito trazia o cheque do editor, fizemos juntos dois filmes, almoçámos e passeámos, discutimos e rimos. Ele era um homem excelente, bem humorado, simpático que me estimava muito. Tenho aí alguns livros dedicados, cartas, bilhetes. Faz-me falta como sofro com outras ausências: Alexandre Ribeirinho, Urbano T. Rodrigues, Isabel, Ondina Braga, mesmo Saramago de antes do Nobel, tantos outros.