Sábado, 19.
Ontem
quando cheguei à Brasileira deparei com o António Carmo e todos os habitués, aguardei a sua reacção às palavras que deixei no Livro de Honra da exposição.
Não tardou e palavra puxa palavra, desenvolvi o que escrevinhei. Disse-lhe que
gostei dos desenhos, mas achei a pintura pouca criativa e toda visualmente
igual, além de me parecer que a retrospectiva foi montada em cima do joelho. Amuou,
“é a tua opinião”. Eu não conheço ninguém tão atento, activo na promoção do seu
trabalho como ele. Move montanhas para alcançar o que pretende. Não há mal
nenhum nisso, não fora o facto de ele acreditar nos elogios fáceis e ligeiros. Gosto
dele e disse-lhe que um artista só avança com análises sadias e
desinteressadas. De contrário somos como aqueles programas balofos das
televisões onde todos dizem bem de todos e a mediocridade é atirada aos olhos
dos incautos como postas de cherne da melhor qualidade. Logo que ele saiu....
cala-te boca. No que a mim me diz respeito, prefiro amochar com a opinião contrária
e até deselegante, mas construtiva, sem vinganças nem represálias. Só assim
posso descer do pedestal onde quiçá me posicionei e encarar o meu trabalho com
a humildade não de um jogador de futebol, mas de alguém que sofre por amor à
perfeição. Endureci a vida nisso, preciso de todos e não necessito de ninguém.
Vivo bem sem glosas porque, em último caso, a escrita é o meu refúgio, a seiva
que dá consistência aos meus dias, o oxigénio que me permite viver em sintonia
com a solidão. Amo a independência, a liberdade, o horizonte desimpedido. Aceito
que tenho os meus defeitos, cometo os meus erros, mas estou como uma sentinela
permanentemente atento porque o “amor é fogo que arde sem se ver”. Por outro
lado, se perco amigos, é porque não eram sinceros. Este registo está cheio
dessa evidência, como a vida. Quantos nomes deixaram de brilhar nas palavras
corridas deste texto...
- O país está em alerta máximo.
Prevê-se para hoje de norte a sul temperaturas a passar dos 40 graus!