sexta-feira, outubro 02, 2020

Sexta, 2.

Apresso-me a deixar aqui o primeiro parágrafo do artigo de António Barreto no Público de domingo com o título “Justiça e Corrupção”. Ele resume duma penada, o que é hoje o nosso infeliz país governado pela nata de gangsters de toda a espécie. “Chegámos a um cume nunca antes atingido! E ainda não vimos tudo. Um primeiro-ministro, um punhado de ministros, diversos secretários de Estado, vários directores-gerais, numerosos membros de gabinetes, muitos banqueiros, directores bancários sem fim, juízes, procuradores, presidentes da Relação, desembargadores, advogados, professores de Direito, deputados, presidentes de câmara, vereadores, dirigentes de partidos nacionais e locais, chefes da polícia e oficiais das Forças Armadas; há de tudo entre notoriamente suspeitos, investigados, sob inquérito, em curso de instrução, arguidos, à espera de julgamento, condenados, à espera de recurso, a cumprir pena, presos e em detenção domiciliária! O elenco de suspeitos de corrupção, é uma lista de celebridades. Não há paralelo na história do país. E parece haver poucos casos semelhantes, se é que existe algum, na história recente da Europa... “ Bom, meu caro Barreto, nalguma coisa temos de ser os maiores! 

         - Por esta altura, em anos normais, diz-me a Annie, já nós estávamos em conversações telefónicas para a minha chegada a Paris. Pelo menos há 25 anos que assim é: eu comecei por passar uma semana, depois 15 dias e já na retraite mês e meio juntos. A pandemia separou-nos e ela não se conforma e eu não tenho outro remédio senão aceitar a vida salgada a que o vírus chinês nos condenou. Mas faz-me falta aquela lufada de ar cosmopolita, as livrarias, os museus, a atmosfera que a cidade expande no Outono, uma certa soturnidade quando as luzes se acendem no Quartier Latin, as igrejas fecham portas e os parisienses correm para o metro aflitos por chegar a casa depois de um dia de trabalho, os jantares em casa de amigos, as viagens inopinadas - Lille, Quiberon, Strasbourg, Cambrai -, os serões fechado no quarto azul a trabalhar, a chauffage à boa temperatura, o silêncio, a paisagem do parque de la Courneuve, o frio, os vidros embaciados, a linha 13 do metro um susto que aqui e agora recordo com saudade, a Av. Romain Rolland deserta, o percurso de autocarro (três paragens) até casa a transbordar de negros, o salão iluminado como se fosse o hall da Ópera de Paris, a Annie e Robert à minha espera para que lhes conte as horas passadas no centro da cidade, os cafés e esplanadas em torno de Saint Michel, os autocarros vagarosos do centro, Notre-Dame adormecida depois do incêndio, os Champs-Élysées varridos pelo vento glacial, eu descendo para tomar o metro na estação do Manel Cargaleiro, misturado com os franceses, um entre iguais não fora o meu passo que felizmente me distingue dos demais, as noites serenas, dormidas no embalo do sonho, ternas recordações que um dia desaparecerão quando todos nós nos ausentarmos para outra vida onde espero possamos voltar a viver juntos... Lá haverá outra Paris, outras ruas e igrejas, outros dias e outras noites, outros encontros e desencontros, uma outra qualquer forma de vida que nos ofereça a possibilidade de balbuciar a palavra AMOR e LIBERDADE num sopro largo de eternidade... 

         - A trágico-comédia em que se transformou a vida dos americanos, conheceu o seu apogeu com o casal Trump infectado com coronavírus. Ele para que não haja veleidades em lhe ocuparem o lugar, barricou-se na Casa Branca onde receberá tratamento vip. Aquela é a maior humilhação que um pesporrente como Trump pode receber. 

         - O Governo socialista, pois então!, quer abreviar a entrega de empreitadas passando por cima dos cânones habituais de contratação pública; mas o Tribunal de Contas, sempre atento, saltou a terreiro a alertar para a corrupção que se perfila.

         - O laxismo dos organismos públicos, cujo pessoal ganha bem, não pode ser despedido, tem a reforma por inteiro, um sistema de saúde mais vantajoso que o SNS, faz o que quer e ainda lhe sobra tempo, é o mesmo que, apesar de se tratar de um quartel onde os migrantes marroquinos foram enclausurados, os ter deixado fugir utilizando lençóis como cordas para descerem pelas janelas e continuarem a fuga para Espanha. Não li em nenhum lado um reparo, revolta, simples nota, chamada à responsabilidade da instituição militar a quem foi confiada a guarda dos pobres marroquinos até à decisão do juiz.