Terça, 14.
O diabo não escolhe hora nem local para nos tentar. Aconteceu que depois de deixar a clínica onde fui fazer uma Eco aos rins, desembarquei na Fnac-Chiado, abanquei no bar-café, preparado para duas horas no romance. De súbito, porém, surgiu do fundo da inquietação, um rapazito bailarino, pequeno de corpo, harmonioso, o rabinho fresco pavoneando-se na minha frente, desafiando o pouco de juízo que ainda existe em mim. Atirei com o computador, levantei-me da cadeira, e a meio do percurso onde o mafarrico me esperava e eu queria pedir-lhe contas, arrepiei caminho e voltei para os braços de Ana Boavida que ao seu jeito de ser gargalhou da minha figura.
- Fiz questão ontem à noite de ficar a sintonizar a SIC para conhecer a vedeta de momento descoberta por Luís Montenegro. Como nunca ouvira o pimpolho falatar, estava curioso e até disposto a aceitá-lo como fenómeno político à portuguesa. Saiu-me o tiro pela culatra. Quem confirmou o seu saber e conhecimento, a sua capacidade argumentativa e a consistência de ideias, foi o próximo deputado europeu do IL, Cotrim de Figueiredo. Mas também me agradou sobremaneira o rapaz do Livre, pragmático, bem preparado, senhor de ideias desenvoltas e ambos deixaram a quilómetros de distância a impreparada Marta Temido e o outro de seu nome Bugalho (que raio de nome) da AD. Uma e outro, são mestres nas frases feitas, nas banalidades, na argumentação fácil, que cativa mas não convence.
- Esta manhã, antes de partir, voltei a reler o capítulo Mil anos sem ninguém do romance de Valter Hugo Mãe. Conhecendo eu os estados de exaltação criativa, o delírio que se instala quando nos deixamos levar pela magia das palavras, invejo-lhe aquelas páginas de uma força incrível, de onde brota toda a dimensão humana e paira algo que não é deste mundo, aqui não medra, apenas passa em voo tangente à eternidade sobranceira ao mistério que é toda a escrita desta qualidade.
- Mais um olhar sobre a beleza inquietante das auroras boreais. Desta vez numa cidade dos países nórdicos.