Segunda, 20.
Vou retomar o tema de ontem. Os socialistas e os grupelhos, à sua esquerda, recordaram cheios de saudades a liderança de Augusto Santos Silva que, sem que eles se dessem conta, contribuiu para trazer ao Parlamento cinquenta deputados do Chega. O homem ficou isolado nas últimas eleições, ninguém votou nele, e outro remédio não teve que regressar de cabeça baixa à sua santa terrinha, o Porto. Depois de ter sido a segunda figura do Estado, este recâmbio foi a paga da sua arrogância e poder sobranceiro. Eu sou sempre a favor da liberdade, do livre e solto pensamento, mesmo quando sou atacado. Nunca me chateei com ninguém que me afrontou ao nível das ideias e penso que toda a confrontação é salutar. Aprende-se com o contradito, mesmo com alguma violência na argumentação, porque a liberdade impera por sobre os ideais e só ela consegue afastar os ditadores, os que pensam que a razão está toda do seu lado, os que não dão margem aos outros de dizerem de sua justiça. A esquerda faz da liberdade de expressão um dogma, mas isso é só enquanto não é atacada; enquanto o outro não é obstáculo à representação da condição humana idealizada por ela. A liberdade pára quando alguém ousa ter um pensamento, uma razão, um deturpe ideológico que a faça vacilar. A democracia ficou mais sólida com o novo Presidente da Assembleia da República Aguiar-Branco. Ele foi corajoso, sobretudo quando, vá-se-lá-saber-porquê, os mass media deitam o ónus da verdade e da democracia, sempre para a esquerda. Proibir a liberdade de expressão, é condenar o outro ao silêncio.
- Morreu num acidente de viação o Presidente iraniano, Ebrahim Raisi. Não se esperam alterações políticas no Irão com a sua morte. Pelo contrário, o regime tirânico poderá recrudescer. Curiosamente, ele que condenou à morte centenas de jovens e muitos deles esperam na prisão pela execução, partiu primeiro numa situação que não deve ter sido nada branda e decerto ele teve consciência do fim.
- Escrevo estas linhas depois de quinze minutos de sesta. Andei de manhã três horas a roçar mato e sentia-me um pouco fatigado. Tempo taciturno. Estamos a chegar a Junho e eu estou à secretária de manta nos joelhos.