sexta-feira, maio 31, 2024

Sexta, 31.

Escrevo estas linhas ao fundo da Brasileira, sentado nas mesas que me permitem olhar a esplanada a abarrotar de turistas, ao lado de duas chinesas que parecem portuguesas no seu modo de falar atroador. Acabou de me falar o João a declinar o almoço porque está com 39 de febre devida à famosa vacina que é suposta aumentar saudavelmente a vida dos velhos. É por estas e por muitas outras que eu não me vacino. Para falar verdade, desconfio da humanidade dos laboratórios que ganham milhões por mês a vender saúde falsificada. 

         - A política hoje é uma fera hedionda que morde quem se aproxima. Tome-se o exemplo do México onde vários candidatos às eleições locais foram atacados e pelo menos dois assassinados. Por cá ainda não chegámos a tanto, mas para lá caminhamos. O espectáculo degradante a que se assiste, é mais uma explosão de ódio que o contributo para a harmonia do todo.  

         - Na Índia os termómetros chegaram aos 52 graus centígrados. Há mortes e pessoas causticadas com a vida virada do avesso devido ao aquecimento climático que hoje tem tantos sabichões a combatê-lo e virou filosofia que uns e outros apregoam enterradas as ideologias do princípio do século passado.   

         -  O Diário de Marcello Mathias, é um cemitério. Cada página um óbito, cada linha uma lágrima perdida nos intermezzos das recordações dos que ficaram. 

         - Uma amiga conta-me que um seu amigo que eu conheci, andaria hoje pelos setenta e poucos anos, lhe havia telefonado segunda-feira à noite, mas ela já cheia de sono, decidira não atender tendo-o feito no dia seguinte. Atende o filho que a informa que o pai tinha falecido terça-feira. Este nosso amigo, depois de um casamento para fugir às convenções sociais, conhece no facebook um brasileiro com quem se relaciona durante seis meses, com idas ao Brasil e vindas do rapaz a Lisboa. Ao fim desse tempo, os dois decidem viver juntos. Ele arranjou trabalho cá e vivia com o falecido há cinco anos. Foi o rapaz hoje com trinta anos, que ao chegar a casa dá com o namorado morto na casa de banho. Toda a morte é um mistério, sobretudo quando precede de um aceno adiado.