terça-feira, janeiro 20, 2015

Terça, 20.
Assisti ontem com interesse ao debate sobre a TAP. A impressão que me ficou foi a de que existem dois campos: o dos pragmáticos (o Governo), o dos românticos (os homens de uma certa esquerda intelectual). Fiquei inclinado para a posição governamental por me ter parecido a mais equilibrada. Todavia, não ignoro que no meio de tanta guerra, quem vai acabar prejudicado com o tempo é o viajante. A TAP é hoje e sempre foi a mais cara das companhias a operar na Europa. Basta fazer uma pesquisa na Net para se chegar a essa conclusão. Resta os voos para os países da antiga potência que também vão sofrer alterações profundas daqui a dois anos.  Acabado o Acordo, não vejo como pode o Estado pôr regra num negócio que pertence aos que lá meteram dinheiro.  O que vai acontecer é o que aconteceu aos CTT: privatizado logo aumentou os preços e diminuiu a qualidade do serviço. A estratégia do PS é parlapatona. Parece de gente que não vive com os pés assentes no chão. Nunca como agora se percebeu o logro das célebres vendas das Golden Chair por tuta e meia. Só Portugal se desfez delas. Todos os outros países da infeliz União Europeia conservam-nas religiosamente.

         - Com o tempo frio e ventoso e a chegada de novo estirpe da gripe, muita gente acorre às urgências dos hospitais. Uns com razões, a maioria por coisa nenhuma de grave. Vai daí existem esperas que chegam a ser de catorze e mais horas. Em consequência, morreram no hall dos hospitais oito pessoas, na maioria velhos. O pobre do ministro da Saúde, explica-se como pode e fá-lo com competência e dignidade. O problema é que em terra onde não há pão... Os mais sacrificados são os médicos e pessoal auxiliar que chega a fazer duas directas. Esgotados, sem reforços técnicos, desmotivados não podem ser eficazes e acudir a toda a gente. Contudo, é meu dever ser cauteloso. Isto porque sempre ouvi dizer o pior dos hospitais, mas quando pela primeira vez caí neles, fui muitíssimo bem tratado e não vi as desgraças que me entravam em casa pela televisão. Talvez muito desta desorganização seja produto de esquemas estruturais e falta de conhecimento no primeiro atendimento baseado no célebre programa de triagem dito de Manchester.  Não me esqueço que o ano passado levei dez meses a marcar uma consulta de rotina no hospital de S. José. Mas quem lá vai percebe logo porquê. A ronceirice do pessoal manga de alpaca e os esquemas de trabalho são terríveis. Os médicos são do melhor, lá como em todos os hospitais. Apesar de não os conhecer, sei pelos relatos de amigos serem heróicos.  

         - A Annie telefonou-me a agradecer o postal que lhe enviei de Alhambra. Ficámos meia hora à conversa. Ela e o Robert visitaram o local há poucos anos e hospedaram-se no antigo e gracioso convento de S. Francisco que eu assomei e constatei ser um luxuoso Parador com diárias delirantes. A minha amiga achava que nem por isso e logo eu desatei a explicar a ironia de um antigo convento franciscano ser hoje lugar para gente endinheirada. E comparei-o com as nossas pousadas. Ambos as unidades, adaptadas por Franco e Salazar para serem hotéis, mas com um princípio que diz tudo da preocupação dos governantes com a cultura e o lazer do povo: ninguém podia ficar mais que (julgo) cinco dias. Preço da diária se bem me lembro dois contos e meio, isto é, doze euros e cinquenta cêntimos. Ai estes ditadores! Hoje a ditadura do dinheiro é tão elitista que chega a ser só nojenta como imoral.

         - Hoje acordei à hora dos mandriões pelas oito e meia depois de ter dormido oito horas seguidas como é meu hábito. Devia estar satisfeito. Mas ao contrário barafustei com Morfeu que me reteve em sonhos tumultuosos tempo demais. Com a semana às voltas por Espanha, atrasou-se o trabalho e tenho agora de fazer maratonas para entrar nos ritmos que me impus. Sem os quais me parece a vida sem interesse. Há tanta coisa para fazer que os dias escoam em alegria preenchidos não só pelo essencial como por bagatelas que amenizam as horas difíceis. Louvado seja Deus!