Terça, 20.
Assisti
ontem com interesse ao debate sobre a TAP. A impressão que me ficou foi a de
que existem dois campos: o dos pragmáticos (o Governo), o dos românticos (os
homens de uma certa esquerda intelectual). Fiquei inclinado para a posição
governamental por me ter parecido a mais equilibrada. Todavia, não ignoro que
no meio de tanta guerra, quem vai acabar prejudicado com o tempo é o viajante.
A TAP é hoje e sempre foi a mais cara das companhias a operar na Europa. Basta
fazer uma pesquisa na Net para se chegar a essa conclusão. Resta os voos para
os países da antiga potência que também vão sofrer alterações profundas daqui a
dois anos. Acabado o Acordo, não vejo
como pode o Estado pôr regra num negócio que pertence aos que lá meteram
dinheiro. O que vai acontecer é o que
aconteceu aos CTT: privatizado logo aumentou os preços e diminuiu a qualidade
do serviço. A estratégia do PS é parlapatona. Parece de gente que não vive com
os pés assentes no chão. Nunca como agora se percebeu o logro das célebres
vendas das Golden Chair por tuta e
meia. Só Portugal se desfez delas. Todos os outros países da infeliz União
Europeia conservam-nas religiosamente.
- Com o tempo frio e ventoso e a
chegada de novo estirpe da gripe, muita gente acorre às urgências dos
hospitais. Uns com razões, a maioria por coisa nenhuma de grave. Vai daí
existem esperas que chegam a ser de catorze e mais horas. Em consequência,
morreram no hall dos hospitais oito pessoas, na maioria velhos. O pobre do
ministro da Saúde, explica-se como pode e fá-lo com competência e dignidade. O
problema é que em terra onde não há pão... Os mais sacrificados são os médicos
e pessoal auxiliar que chega a fazer duas directas. Esgotados, sem reforços
técnicos, desmotivados não podem ser eficazes e acudir a toda a gente. Contudo,
é meu dever ser cauteloso. Isto porque sempre ouvi dizer o pior dos hospitais,
mas quando pela primeira vez caí neles, fui muitíssimo bem tratado e não vi as
desgraças que me entravam em casa pela televisão. Talvez muito desta
desorganização seja produto de esquemas estruturais e falta de conhecimento no
primeiro atendimento baseado no célebre programa de triagem dito de Manchester. Não me esqueço que o ano passado levei dez
meses a marcar uma consulta de rotina no hospital de S. José. Mas quem lá vai
percebe logo porquê. A ronceirice do pessoal manga de alpaca e os esquemas de
trabalho são terríveis. Os médicos são do melhor, lá como em todos os hospitais.
Apesar de não os conhecer, sei pelos relatos de amigos serem heróicos.
- A Annie telefonou-me a agradecer o
postal que lhe enviei de Alhambra. Ficámos meia hora à conversa. Ela e o Robert
visitaram o local há poucos anos e hospedaram-se no antigo e gracioso convento
de S. Francisco que eu assomei e constatei ser um luxuoso Parador com diárias
delirantes. A minha amiga achava que nem por isso e logo eu desatei a explicar
a ironia de um antigo convento franciscano ser hoje lugar para gente endinheirada.
E comparei-o com as nossas pousadas. Ambos as unidades, adaptadas por Franco e
Salazar para serem hotéis, mas com um princípio que diz tudo da preocupação dos
governantes com a cultura e o lazer do povo: ninguém podia ficar mais que
(julgo) cinco dias. Preço da diária se bem me lembro dois contos e meio, isto
é, doze euros e cinquenta cêntimos. Ai estes ditadores! Hoje a ditadura do
dinheiro é tão elitista que chega a ser só nojenta como imoral.
- Hoje
acordei à hora dos mandriões pelas oito e meia depois de ter dormido oito horas
seguidas como é meu hábito. Devia estar satisfeito. Mas ao contrário barafustei
com Morfeu que me reteve em sonhos tumultuosos tempo demais. Com a semana às
voltas por Espanha, atrasou-se o trabalho e tenho agora de fazer maratonas para
entrar nos ritmos que me impus. Sem os quais me parece a vida sem interesse. Há
tanta coisa para fazer que os dias escoam em alegria preenchidos não só pelo
essencial como por bagatelas que amenizam as horas difíceis. Louvado seja Deus!