domingo, janeiro 18, 2015

Domingo, 18.
Estou quase no fim do ensaio do Príncipe, Novos Estudos Sobre António Sérgio. Longa peregrinação sobre um trabalho que está longe de ser nulo, mas que padece do eterno problema das nossas universidades: demasiado obscuro. Apetecia-me dizer o que disse Madame du Deffand a Horace Walpole sobre a música de Gluck: La musique de Gluck n´est ni française, ni italienne. Je doute que les savants puissent la louer de bonne foi; et pour les ignorants comme moi, ele n´est plus qu´un charivari tantôt bruyant, tantôt plat et toujours ennuyeux. Bom. Eu não chego a tanto. Príncipe tem dois capítulos onde se estende na exigência de filósofo que me parece estar longe de ser a sua. Muitas são as páginas em substância como no português que é o seu, me paralisaram ao lê-las. Dou um exemplo. Nos textos dos anos de 1930, surgem destacadas teses que são axiais no seu platonismo ideal, e que mostram porque AS (António Sérgio) insistiu na espontaneidade e na organicidade do intecto e na anterioridade do todo em relação às partes no psiquismo humano, para o que se apoiou (também) em leituras sobre psicologias da totalidade que rejeitam o atomismo dos dados da percepção; AS (António Sérgio) distinguiu o pensamento do discurso em que se manifesta e sublinhou o aspecto realista-idealista de feição platónica e espinosista do seu ideário que postula a existência de uma inteligência imanente ao Cosmos.  Ufa! Que mente mais entaramelada! Coitados dos alunos que hoje frequentam as universidades! Não queria estar no seu lugar. Parece que em Portugal um pensamento sólido tem antes que passar pela inacessibilidade da escrita, sem a qual nenhum pensar consistente merece a gratidão da originalidade e da profundidade. É-se inteligente, denso, original quando botamos palavreado caro que impressiona e põe em sentido os incultos. O gueto universitário, constrói-se de distância e desdém.


         - Seis milhões de pessoas assistiram à missa celebrada em Manila pelo Papa Francisco. À sua chegada ao Sri Lanka disse que “a liberdade religiosa e a liberdade de expressão são ambos direitos fundamentais” e acrescentou: “Não se pode matar em nome de Deus. Matar em nome de Deus é uma aberração.” Todavia, não deixou de prevenir os jornalistas “não se pode provocar, não se pode ridicularizar a religião dos outros”. E para que fosse mais claro, disse: “Ainda antes de eliminar seres humanos em assassinatos horríveis, o fundamentalismo religioso elimina o próprio Deus, transformando-O num mero pretexto religioso.” Não sei se os jornalistas compreenderam. Para mim nós devemos respeito recíproco a cada religião e, portanto, deve haver extremo cuidado em não fazer de Deus um fantoche que passa de cartoon em cartoon numa disputa a ver quem melhor o achincalha e com isso vende mais jornais. Dito isto, acho que a capa do número especial do Clarlie Hebdo foi muito cuidada e reflectida e por si só é um imenso perdão àqueles que mandaram assassinar os jornalistas do jornal.