Terça, 27.
Acho contranaturo a coligação que Tsipras
fez com Kammenos da direita grega. Bem sei que os extremos tocam-se. Também não
ignoro que o partido Gregos Independentes é contra a arrogância e métodos de
Bruxelas. Mas, enfim, penso que o dirigente do Syriza mostra ser um tipo
pragmático e a rapidez com que formou Governo acrescenta uma dose de confiança
ao seu trabalho e competência. Pelo menos, por agora, dissipou a carga imensa
de ódio que encharca o coração dos gregos. Passos Coelho, indiferente à dor
daqueles que foram humilhados e reduzidos a lixo, limita a atitude do povo a um
simples cálculo matemático. Vai ser empolgante assistir nos próximos meses ao
resultado de umas eleições que foram antes de mais um tremendo murro no coração
daqueles que se julgam amovíveis.
- Trabalho no Mac de Setúbal de olhos postos na Avenida Luísa Todi
alagada de sol. Descobri que os dois rapazes que mudam em minutos de
personalidade, são afinal dois alunos da escola hoteleira aqui da cidade. A
farda cinzenta que vestem antes de deixar o restaurante, é aquela que a escola
obriga a envergar como acontece com muitas similares inglesas. Um chic!
- Jardim, o da Madeira, diz que não se enriquece com a política.
Deixa-me rir ha-ha-ha.
- As horas que consagro à leitura depois do almoço, sentado debaixo do
telheiro adjacente ao salão, ao sol, são sagradas. São horas que me permitem
levitar, atingir o zénite, perder-me por mundos habitados do sussurro
incomensurável das vozes vindas do misterioso encontro entre a arte e a vida,
desafiadoras da morte e da ressurreição. O silêncio é cristalino, apenas
perturbado pelo ranger dos ossos dos cedros altos que circundam a quinta e do
ruído do sol batendo nas árvores mudas. Uma imensa paz cai abrupta do céu. Fico
suspenso a admirar este paraíso opaco, onde não bule uma folha e um terno aroma
a lenha a arder na lareira incensa o ar de recordações. Embarco nelas e deixo
este porto de abrigo para voar nas asas crepusculares do dia que finda...