terça-feira, janeiro 13, 2015

Terça, 13.

Nada nos impede de reflectir. O Ocidente e a América indignam-se e com razão com os actos criminosos dos jihadistas. Sentem-se atacados, acham bárbaras as mortes pelo ódio, juntam-se em manifestações grandiosas mostrando a unidade contra aqueles que querem destruir a sua santa vida democrática, os seus valores religiosos, a liberdade de dizer aquilo que pensam. Tudo bem, nada contra. Contudo, se me ponho a pensar afastado do pesar que todas estas situações me causam, sou levado a concluir que também os povos islâmicos têm as suas razões. Reparemos no início dos inícios. Saddam está no poder, é segundo a América um ditador, um carnificina. Vai daí, democratas como somos, senhores do mundo sem fronteiras, inventamos uma mentira, invadimos o Iraque e matamos o seu dirigente, expomo-lo de seguida desumanamente à multidão embriagada de embustes como se fosse um bicho numa toca ou um troféu desportivo, reduzimos a poeira cidades e vilas, soberbamente, com o orgulho de quem possui as mais devastadoras armas bélicas, senhor do universo que a riqueza pode submeter. Aqui chegados, outra atitude não podiam ter os povos reduzidos a ímpios, que organizarem a sua defesa posto que todas as portas estavam fechadas e apenas imperava a lei do mais forte. Começa-se então a ouvir falar de grupos violentos que nas montanhas a coberto dos misseis terríveis que furam a pedra, nasce a Al-Qaeda e a seguir outras organizações que se põem em contacto, organizam-se, reúnem pequenos exércitos e, sem dinheiro suficiente para afrontar os poderosos, inventam o suplício, a guerra das pedras, os mártires de Alá e Maomé. São eles que vão investir sobre os poderosos bem armados, a cintura cingida de explosivos, quase sempre jovens em plena adolescência, ávidos de servir a causa que também é deles enquanto muçulmanos, árabes, islamitas, xiitas ou outro qualquer ramo religioso que para o caso passa a ser apenas um irmanado no mesmo amplexo. Mas estão sempre em desvantagem. Não possuem exércitos, não têm armamento, não podem invadir os países que os atacaram e humilharam. Resta-lhe a guerrilha, os pequenos santos a quem prometem uma vida eterna de felicidade. Cheios de ódio, recolhidos nos extremismos de um Livro que cada um interpreta à sua maneira, inundam o mundo de actos que são puro terrorismo, retribuição, vingança ensandecida que nunca nenhum país atulhado de armamento conseguirá vencer. Afinal são eles hoje a extraordinária potência bélica que, como toupeiras vesgas, invade de terror e morte os países e os povos ditos civilizados.