Terça,
13.
Nada
nos impede de reflectir. O Ocidente e a América indignam-se e com razão com os
actos criminosos dos jihadistas. Sentem-se atacados, acham bárbaras as mortes
pelo ódio, juntam-se em manifestações grandiosas mostrando a unidade contra
aqueles que querem destruir a sua santa vida democrática, os seus valores
religiosos, a liberdade de dizer aquilo que pensam. Tudo bem, nada contra.
Contudo, se me ponho a pensar afastado do pesar que todas estas situações me
causam, sou levado a concluir que também os povos islâmicos têm as suas razões.
Reparemos no início dos inícios. Saddam está no poder, é segundo a América um
ditador, um carnificina. Vai daí, democratas como somos, senhores do mundo sem
fronteiras, inventamos uma mentira, invadimos o Iraque e matamos o seu
dirigente, expomo-lo de seguida desumanamente à multidão embriagada de embustes
como se fosse um bicho numa toca ou um troféu desportivo, reduzimos a poeira
cidades e vilas, soberbamente, com o orgulho de quem possui as mais
devastadoras armas bélicas, senhor do universo que a riqueza pode submeter. Aqui
chegados, outra atitude não podiam ter os povos reduzidos a ímpios, que
organizarem a sua defesa posto que todas as portas estavam fechadas e apenas
imperava a lei do mais forte. Começa-se então a ouvir falar de grupos violentos
que nas montanhas a coberto dos misseis terríveis que furam a pedra, nasce a
Al-Qaeda e a seguir outras organizações que se põem em contacto, organizam-se,
reúnem pequenos exércitos e, sem dinheiro suficiente para afrontar os poderosos,
inventam o suplício, a guerra das pedras, os mártires de Alá e Maomé. São eles
que vão investir sobre os poderosos bem armados, a cintura cingida de
explosivos, quase sempre jovens em plena adolescência, ávidos de servir a causa
que também é deles enquanto muçulmanos, árabes, islamitas, xiitas ou outro
qualquer ramo religioso que para o caso passa a ser apenas um irmanado no mesmo
amplexo. Mas estão sempre em desvantagem. Não possuem exércitos, não têm
armamento, não podem invadir os países que os atacaram e humilharam. Resta-lhe
a guerrilha, os pequenos santos a quem prometem uma vida eterna de felicidade.
Cheios de ódio, recolhidos nos extremismos de um Livro que cada um interpreta à
sua maneira, inundam o mundo de actos que são puro terrorismo, retribuição, vingança
ensandecida que nunca nenhum país atulhado de armamento conseguirá vencer. Afinal
são eles hoje a extraordinária potência bélica que, como toupeiras vesgas, invade
de terror e morte os países e os povos ditos civilizados.