Quarta, 28.
O maître
à penser de Príncipe, Hermínio Martins, faz um posfácio interessante ao
livro do meu amigo. De realçar o abismo na forma de escrever de um e outro,
assim como o facto de Martins, a exemplo de muitos intelectuais, partir
desvairado nos patins do seu conhecimento, deixando para trás o nobre João
Príncipe que, de resto, só cita duas vezes em dez páginas. Nas suas linhas,
embora poucas, percebe-se que não gosta nada de Heidegger, assim como de outros
escritores ligados ao grupo Círculo de Viena que Príncipe desenvolve com desenvoltura.
Eu se fosse versado em Epistemologia, veria no texto de Hermínio Martins o leit-motiv para um estudo aprofundado
não só de António Sérgio como de toda a filosofia que se ocupou do ensino desde
os finais do século XIX a meados do século XX. Porque as bases estão lançadas
no posfácio, só precisa de “puxar” cada um dos autores citados, as correntes
filosóficas traçadas, e deixar fluir os conhecimentos colhidos ao longo dos anos
de estudo. Sim, é verdade que Príncipe dá-nos um António Sérgio mais profundo,
menos conhecido, longe das querelas partidárias e do aproveitamento que os
políticos e intelectuais, sobretudo os ligados ao Partido Socialista e aos
homens da Seara Nova do tempo de Salazar e Caetano, mas lamento que tivesse
posto de lado um certo misticismo que havia em Sérgio e em Pascoes e que ele
cita sem citar, a galope para entrelaçar influências e delimitar barreiras ideológicas.