sexta-feira, agosto 04, 2023

Sexta, 4.

Outro dia faleceu o Duarte Teives. O Teives, santo Deus! Convivemos na juventude e já nessa altura, lembro-me, estava sempre em desacordo com ele. Era de esquerda, uma esquerda libertária, mas quem não era no confronto com o regime opressivo que governou o país durante meio século! Todavia, se bem me lembro, o que eu detestava nele era um certo ar anarquista burguês, vindo salvo erro da Madeira ou dos Açores, que impunha as suas ideias revanchistas como então se dizia. Descansa em paz e contigo os momentos que nos uniram e tantas vezes nos dividiram.

         - O país virou beato. Políticos (o pio dos pios é Marcelo), padres, jornalistas (estes apesar de falarem mal o português pró caraças), polícias, comentadores, analistas (esta classe quase se benze antes e depois da oração que todos conhecemos de ginjeira), enfim, um país transformado num santuário de beataria profissional que francamente não aprecio. O Papa Francisco é o culpado deste despautério religioso. Todavia, a prova que os seus ensinamentos são para esquecer, está na ostracização ainda em pleno convívio, de um corajoso rapaz que apareceu no primeiro dia do encontro com os jovens, empunhando a bandeira da LGBT. Iam-no comendo vivo. Previno: A verdade é muitas vezes o ouvido da mentira. 

         - Falando de jornalistas. Que classe! Que horror de gente mal formada, sem senso nem oportunidade, sem sensibilidade para a profissão que exercem, sem opinião pesquisada e digerida! Se eu, nos primeiros passos no jornalismo, tivesse feito aquilo que vejo fazer hoje aos meninos e meninas, era posto imediatamente fora do jornal pelo chefe de redação. Não porque eu tivesse assimilado logo no início a bagagem profissional, mas porque eu não estava capaz culturalmente de vir a ser um bom repórter. Quero com isto dizer que ao jornalista compete ter um enorme número de valores – ética, conhecimento mínimo da língua, oportunidade, humildade, empatia, alguma dose de psicologia, olhar abrangente sobre a realidade, respeito por quem interroga, etc. – de modo a ser credível e alguém em quem se possa confiar o segredo de uma notícia, a busca da mesma, a certeza da honestidade e independência daquele que nos informa e dá a conhecer ao mundo a notícia do dia, a “caixa” como se diz no meio.  

         - Curioso Sua Santidade que evidentemente não me lê, tenha dito ipsis verbis  o que eu aqui anotei, quinta-feira 3, acerca de estarmos juntos e à mercê de Deus. Eu escrevi de manhã, ele homiliou ao fim do dia. Seja como for, agrada-me comungar com o chefe da Igreja dos mesmos sentimentos.  

          - Depois de duas horas que deram para encher uma página do romance, fui nadar. Estranhei não ver ninguém na recepção e acabei, só, num lago de água habitualmente com umas quantas almas de um lado e do outro um arraial de senhoras com cestos de frutos à cabeça e aos pulos. Daí que, tendo a piscina só para mim, em vez da tradicional meia hora, estendi até quase à uma hora de intenso exercício. Nos balneários encontrei o nadador-salvador, que me informou ser este o último dia de trabalho ficando a piscina fechada para férias a partir de manhã. A conversa decorreu com o homem todo nu na minha frente, corpo musculoso (naturalmente), absolutamente depilado (não havia um pelinho em lado nenhum). Eu estive para lhe dizer que me poupasse àquele espectáculo, tão diferente dos habitués frequentadores peludos, musculados, membrudos, barrigudos, enfim, tipos que não se vergam a esposazinha e gostam de manter tudo o que compete ao homem viril português...