quinta-feira, agosto 03, 2023

Quinta, 3.

O discurso de recepção do Sumo Pontífice, pareceu-me um sorriso aberto a toda a gente. Francisco distribuiu glórias aos portugueses e a Portugal, como se folheasse um livro de acção de graças. A seu lado, o impagável Marcelo, rejubilava. Contudo, na rápida passagem da nossa história, foram citados escritores: Luís Vaz de Camões, Sophia,  Pessoa e até Saramago! Conhece por ventura o Papa a sua obra e a sua personalidade, não me parece. Porque se soubesse quem foi o autor de O Evangelho Segundo Jesus Cristo, saberia que ele militaria a favor do diálogo em vez da guerra sim, mas com a condição que Putin fique com os territórios surripiados à Ucrânia. Em verdade, ao pensar assim, Bergoglio faz o jogo dos comunistas que se dizem a favor da paz. Qualquer ser minimamente humano, abomina a guerra. Mas quando se está perante um Hitler, um Mussolini, um Putin, um Kim Jong-un, um Xi Jinping que são surdos e vesgos, odeiam o diálogo e só se satisfazem com armas, temos de tomar o lado dos mais fracos e daqueles que foram agredidos por esta plêiade de ditadores. 

         - Já a homilia lida na Oração de Vésperas foi uma grande chamada de atenção ao coro de funcionários eclesiásticos que tinha na frente e aos seus extravagantes delitos com menores. De fora ficou a banalidade politicamente correcta da recepção, e imperou a reflexão dura e crua da realidade. Foi uma bela mensagem que não deixou de lado o estado da Igreja e a sua relação com os fiéis. Utilizando a parábola do Evangelho (Lucas 5: 1-11), o Papa Francisco reinventa o dinamismo indispensável à fé e constrói novos fundamentos da realidade alicerçados no mundo de hoje, onde o Amor joga o papel essencial e revolucionário deixado por Cristo na terra.  Somos um todo e é juntos que nos podemos salvar. A parlapatice dos novos padres que julgam que os jovens aderem à Igreja com linguagem e acções próprias da sua idade, o cabeção posto de lado, um entre os demais, é um eufemismo  que não colhe. Francisco foi claro: a “desilusão e aversão que alguns nutrem face à Igreja, devido às vezes ao nosso mau testemunho e aos escândalos que desfiguraram o seu rosto e que nos chamam a uma humilde e constante purificação, partindo do grito de sofrimento das vítimas que sempre se devem acolher e escutar”. Eu recordo que a Igreja com as suas normas e circunstâncias, não foi criada por Jesus Cristo. Podemos amar a Deus sem o suporte espiritual da Igreja. Por outras palavras: Deus é-me indispensável, mas a Igreja...  

         - Eu até posso suportar embora com grande esforço, o espectáculo dos políticos aproveitadores, à cabeça dos quais o senhor Carlos Moedas; mas detesto os eclesiásticos políticos. A Igreja, desde os tempos do Estado Novo, serviu os interesses de quem estava no poder, confundido o religioso com o temporal em proveito próprio. Quando observo o delírio de Moedas desembolsando trocos para sua promoção, ou o pregador da SIC manipulando informação para agrupar individualidades indispensáveis à sua ambição, apetece-me gritar e despachar a pontapés os vendilhões de um templo onde a humildade de Jesus Cristo foi enxovalhada. Porque os pobres imigrantes que Moedas levou da Almirante Reis, escondendo-os por aqui e por ali, são os mesmos que Jesus Cristo protegeu e sobre os quais o Papa Francisco acode sem esmorecer.   

         -  Hoje, aproveitando a presença da Piedade em limpezas nos quartos, decidi deitar uma olhada ao meu velho smoking que não uso há uma eternidade: nem uma traça nele entrou, todo ele está como se tivesse saído da loja. Vai ficar a arejar todo o dia porque (talvez) voltarei a usá-lo quando for a Estocolmo receber o próximo Nobel de Literatura...