terça-feira, agosto 22, 2023

Terça, 22.

Jour heureux. Devo à escrita os dias mais felizes da minha vida. Esta manhã, durante duas horas, enchi página e meia do romance. O que veio, parecia empurrado por uma espécie de magia que dava vida às palavras e apaziguava o meu cérebro. A coisa foi tal, que acabou por incendiar as horas que se seguiram, dando movimento ao que tinha encalhado na desistência do muito que tenho sempre para fazer. Glória a Deus! E a Julien Green que me ensinou a técnica da escrita romanesca que hoje aplico. Tudo o que for além das duas, duas horas e meia de trabalho e concentração, é lixo.   

         - Não foi preciso muito para derrubar a maluquice e propaganda barata do senhor Carlos Moedas. As suas contas de merceeiro saíram furadas – Lisboa não ganhou milhões com as JMJ. Pelo contrário. Gastou aquilo que tanta falta faz aos pobres, aos professores, ao SNS, às condições habitacionais, aos reformados que viveram pobres e pobres irão morrer. O saldo sabe-se agora é negativo. É este tipo de gentinha que nos governa. 

         - Marcelo marcou pontos ao vetar o programa Mais Habitação. Depois de ler as tais 95 páginas do diploma, abrindo os olhos e reafirmando “95 páginas!” como a acentuar o exagero ou a montanha pariu um rato, refutou agora a monstruosidade. Em sentido lateral, entenda-se. Fala o Presidente de “confiança perdida”, porque o Mais Habitação foi incapaz de reunir consensos entre os partidos na Assembleia, tendo sido aprovado apenas com os votos daquele que o pensou e escreveu – o PS. Segundo M.R.S. o Estado não vai conseguir construir “salvo de forma limitada, e com fundos europeus (lá estão as habituais esmolas), o Estado não vai assumir responsabilidades directas na construção de habitação”. Por outro lado, adverte o Presidente, a burocracia é enorme, à moda portuguesa, de modo a desmotivar aqueles que vivem na rua. Por isso, o seu argumento: “O apoio dado a cooperativas ou o uso de edifícios públicos ou prédios privados adquiridos ou contratados para arrendamento acessível implicam uma burocracia lenta e o recurso a entidades assoberbadas com outras tarefas, como o Banco de Fomento (falido, digo eu) ou sem meios à altura do exigido, como o Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana.” Por outro lado, crê Marcelo que o arrendamento forçado é “simbólico”, porque “fica tão limitado e moroso que aparece como emblema (leia-se político) meramente simbólico, com custo político superior ao benefício social palpável”. No concernente à famosa AL, junta Marcelo Rebelo de Sousa “a igual complexidade do regime de AL, torna duvidoso que permita alcançar com rapidez os efeitos pretendidos”.  Neste campo, o Governo pretende aplicar medidas como as que obrigam os titulares dos registos AL a fazer prova da manutenção da actividade ficando sujeitos a cancelamento de registos, “caso os alojamentos sejam considerados inactivos”. Depois este pormenor: “Nestas medidas ficam isentas as unidades exploradas em habitação própria e permanente, desde que a exploração não ultrapasse 120 dias por ano.” Lei bem ao gosto socialista, que sabe não ter meios de fiscalização. Na conclusão do veto, diz o Presidente: “não se vislumbram novas medidas, de efeito imediato, de resposta ao sufoco de muitas famílias em face do peso dos aumentos nos juros e, em inúmeras situações, nas rendas.” Resposta do Governo: “A maioria vai confirmar o diploma tal como ele está.” Tudo quanto a oposição da direita à esquerda disse do documento, não conta para nada. O PS quer, pode e manda. É a democracia socialista a funcionar. Todavia, de toda a contra-argumentação partidária, a única que me merece total concordância pela verticalidade, a isenção e o parecer bem documentado é a do PCP. Lamento, mas é assim. 

         - Canícula pura. Aqui no interior (parte nova que é antiga devido aos materiais que andei a rebuscar por todo o país) estão 30º C; enquanto na parte antiga registo 39º C. 

         - Encontrei no Alegro de Setúbal, uma ilha comercial que dava a conhecer aos clientes um batido dito natural, à base de vários produtos, que depois são incorporados no leite e mais não sei o quê, e resultam numa bomba calórica de morrer e chorar por mais. Conheci o produto em Paris, no mês de Maio, e experimentei-o. Só que lá, país pobre, pela mesma bebida paguei 2 euros; enquanto aqui como somos ricos, custa 7, 60 euros.