segunda-feira, agosto 14, 2023

Segunda, 14.

Fazem-se agora as contas da JMJ. Gastou-se à tripa-forra com autorização especial do Governo que é o dono disto tudo. Apesar de ter havido quatro anos para se preparar o acontecimento, uma grande percentagem dos contratos foram por ajuste directo e só 7,5% por concurso. Imagina-se as borlas e negociatas que andaram por aí a correr e que agora o presidente da Câmara de Lisboa e o primeiro-ministro, dizem ter sido um negócio barato a vinda do agente turístico ao nosso país, Sr. Jorge Bergoglio. Eu calculo que ao todo a coisa deve ter andado muito perto 120 milhões. 

         - No rescaldo da festa, quem perdeu e de que maneira, foi o Planeta. As toneladas de alimentos estrados, as montanhas de lixo pela cidade, os CO2 enviados para a atmosfera devido à deslocação dos peregrinos – aviões, automóveis, autocarros, barcos. comboios – numa loucura que estou convencido pouco ou nenhum contributo trouxe à fé e, sobretudo, aos que tanto precisavam do dinheiro para não morrerem à fome, terem uma vida digna,  saúde e velhice respeitáveis. Eu não estou contra a vinda do Papa. A verdade é que passámos uma semana no céu, afastados da banha da cobra da política. 

         - A propósito, já agora, as Jornadas da Juventude, também deram azo a muitos delírios político-partidários. Como o caso daquele artigo do Público, assinado por Fernando Rosas, tendencioso até dizer chega. Diz o insigne professor referindo-se ao assunto: “a mais grave violação do princípio constitucional da separação do Estado e das Igrejas desde que foi institucionalizada a democracia”. E mais adiante: “... investir somas do erário público deste montante (ele fala em 80 milhões) como privilégio cerimonial de uma crença religiosa é social e politicamente imoral. Poupem-nos às justificações deliquescentes dos idílicos jardins floridos”, acrescenta. Até estou em parte de acordo. A pergunta que me ponho, é a de saber que diferença há em receber o soberano representante do Estado do Vaticano e Putin ou Xi Jinping. Dir-me-ão o Estado português é laico. Tudo bem e depois? Se o ditador da Rússia ou da China viessem a Portugal o nosso país não é (por enquanto) uma ditadura. Portanto, empregando o mesmo raciocínio, devíamos tratar qualquer dos dois dirigentes com distanciamento pois Portugal é democrático.  Ou, no extremo, nem os receber. Podemos pôr o assunto doutro modo: Francisco veio em nome da fé; os outros em nome dos negócios e das ideologias.  Se o Papa foi acolhido como “vendedor” da fé; os outros vendem negócios e filosofias concomitantes. A questão de base é esta: se Fernando Rosas se limitasse a discutir as verbas colossais empregadas, tinha o meu apoio. O problema é que no artigo subjaz a sua posição ideológica – e por isso nos separamos. Já agora mais esta. Quando a rainha de Inglaterra, Isabel II, veio a Portugal, despendeu-se fortunas. Alguém se indignou? Mais: se o Estado é laico, e o Estado são os seus habitantes, isto é, oitenta por cento de portugueses católicos! Esta simbiose dá que pensar no que se chama vulgarmente “a política”.  Ou não dá? 

         - Há dias que nos chegam imagens impressionantes do Havai. Um ou vários incêndios arrasaram duas ilhas do arquipélago por completo. Lugar outrora de felicidade para os nativos e turistas. Pelo menos cem pessoas morreram calcinadas e o saldo de tanta desgraça e destruição ainda não foi feito.