segunda-feira, abril 08, 2024

Segunda, 8.

Green. Toujours lui. O escritor conta que desde os 46 anos que tomava soporíferos para dormir. Aos 83, um dia ou antes uma noite, experimentara dormir sem qualquer a droga e a conclusão: “Réussite partielle. J´ai dormi comme on dort quand on a une mauvaise nuit.” Eu estou quase como ele. Desde o susto do dia 2 de Fevereiro que não sei o que é ter uma noite santa. Toda a vida dormi sem compridos, oito horas seguidas. Agora, tendo posto de lado as benzodiazepinas que o cardiologista me receitou, durmo como o meu querido autor. Se bem me lembro, algum tempo depois, ele voltou a usar a pílula e dizia que era melhor fazê-lo que ter noites com pesadelos e poder trabalhar sem esforço (na altura ele estava a terminar Frère François).

         - Ontem e anteontem, dediquei-me a roçar erva entre o salão e a piscina. Ficou concluído esse espaço embora, depois da missa, e depois da grande conversa telefónica com o Vítor sobre editores que me deixou triste, a tensão subiu para 16. Ele dizia como Lídia Jorge, que as livrarias estão cheiras de lixo e quando queremos um livro fora da ficha dos autores que pagam para ver impressos e daqueles que não pagando escrevem merdelhices sem qualquer interesse, não encontramos. Disse-lhe: “Não aceito pagar para ser editado. Já fui contactado por vários editores, um ou outro aceitei ir ao seu encontro, li o contrato que estava escrito na ponta da lambujem, mas quando no final vi o montante que me pediam, deixei-os a falar sozinhos.” Não tenho vaidade de ser apelidado de escritor, nem incho em ver um livro meu nos escaparates de livrarias e quiosques, supermercados ou gares de comboios; a escrita em si mesma é sacrossanta suficiente para a minha submissão. E para ser mais modesto, bastam-me os leitores deste trabalho, que, sem nunca ter feito qualquer tipo de publicidade e ter rejeitado ganhar dinheiro com ele (lembro-me de até da Alemanha me ter sido proposto a troco de uma marca), estes terem vindo a aumentar atingindo já os 60 mil. Não é coisa pouca, tendo em conta os assuntos aqui versados, o meu espírito crítico, a revolta que me devora, o inconformismo... 

         - Que outras parecenças me arranjarão! Outro dia, no consultório do cardiologista, no fim do dia, eu e uma senhora de bom porte. É ela que começa a conversar não estando mais ninguém. Diz-me que vive em Setúbal num condomínio de estrangeiros sendo ela e o marido os únicos nacionais. Eu falo, argumento, porque ela me interrogou se era casado e eu respondi que não e nem tenciono sê-lo. Ela diz-me que faço muito bem, porque pelo seu lado esta farta de aturar o marido, um rico proprietário de um stand de automóveis de topo e oficina dos mesmos. Quer saber se vivo na cidade sadina, retruco que escolhi viver no campo completamente só. “Bem me parecia que é escritor, tem ar disso.” “Como assim?” “O seu ar um pouco ausente e a forma de falar.”

         - Fui a Lisboa. Que diz o espião que me segue? Que calcorreei 3,7 km, pédibus cum jambes 5623, subi 3 pisos e dormi 7,45m.