quinta-feira, abril 18, 2024

Quinta, 18. 

A velhice desafia a juventude. Estive ontem no Gama Pinto em exame oftalmológico. Desta fez fui atendido pela chefe do serviço como sempre naquele hospital cordial e humanamente impecável. Disse a doutora Gabriela, depois de vários exames ao estrabismo, que este está controlado e talvez tenha vindo já da adolescência. Por isso, não necessito de intervenção cirúrgica e as consultas no seu sector ficam assim concluídas. Disse-me mais: não tenho precisão de ser operado à catarata no olho esquerdo, não só porque ela é pequena como eu vejo ainda muito bem. Mas foi mais longe, incentivando–me se assim o desejasse, a pôr os óculos de parte. Porque, segundo ela, eu vejo muito bem com uma pequena diferença na leitura do olho esquerdo. Bah! Como é possível numa hora receber tantas e tão boas notícias! E como vou eu agora poder passar sem a áurea de intelectual, poeta e anjo que as lunetas decerto me davam?!

         - O fertagus é para mim uma fonte psicológica e social de extrema importância. Falo com muita gente, oiço outra tanta, e até uma africana se apaixonou por mim indo ao ponto de me dizer ontem que há muito tempo não me via, embora observasse o meu carro no lugar dos deficientes, coitadinhos. O problema é que a mulher está fora das minhas idades e ainda por cima é feia como os trovões. Portanto, fugi, despedi-me à pressa e disse-lhe que não tinha tempo para meias-conversas.  Tudo com cinismo q.b. e educação finíssima. 

         - Outro dia, um belga que entrou no comboio conduzindo um jovem cego brasileiro a quem eu dei o meu ligar no tal sítio dos coitadinhos, disse-me que apreciou o meu gesto num português quase imperceptível. Mora numa povoação aqui perto, a mesma onde vive o Tó e o João, há oito anos. Quando virámos para a língua dele, o homem expandiu-se e entrou na apreciação dos portugueses e da política que foi assistindo levada a cabo pelos socialistas. “Um desastre - dizia - e uma desordem.” Eu respondi que aos portugueses só lhes interessa o futebol e logo ele retorquiu: “É a maneira de os controlar, acalmar e comprar.” “Porque somos muito básicos e incultos” contra-argumentei.  “Infelizmente é verdade”, concluiu ele já a deixar a locomotiva. 

         - Noutra ocasião, tenho sentada nos degraus do trem, mesmo na minha frente, uma brasileira que mete conversa comigo. Observo-lhe o que disse Lula da Silva (que um dia haveria em Portugal mais brasileiros que portugueses) ela sorri e diz-me “fugimos dele, mas viemos encontrar outro igual aqui”. Riu-me e penso que não estou só. No adiantado da conversa ela conta-me que no Brasil, quando os corruptos políticos ou das finanças  são presos (coisa rara), as espoas, ao domingo, vão às prisões fazer churrascos para eles. 

         - Independentemente de gostar ou não do Sr. Galamba, deste ou daquele membro do anterior governo, o que observo é que os socialistas que tanto apregoaram “o que é da política à política, o que é da Justiça à Justiça”, estão agora empenhados em destruir o seu slogan hipócrita, porque têm urgência em pôr em Bruxelas o seu orientador e então toca de deitar abaixo a Procuradora que eles próprios escolheram e o Ministério Público no todo.