domingo, abril 21, 2024

Domingo, 21.

A gente basta ir ao Chiado para ter o retrato do turismo de massas. Aquela gente pra ali está espojada nas cadeiras, encostada aos varandins do metro, sentada nos degraus dos prédios, a receber o sol que desce dos espaços das igrejas e monumentos que eles não visitam nem fazem parte do seu destino. É uma praga que os activistas do Canárias se Agota considera um modelo “suicida”. Daí terem dado dez dias ao executivo regional para resolver o problema que aflige todo o arquipélago espanhol. Já avisaram, entretanto, a coligação que governa as Canárias que o tempo está a esgotar-se e depois vão fazer uma greve de fome por tempo indeterminado. As Canárias é um lugar que nunca visitei nem me interessa. Enquanto português, tenho praias magníficas, vilas e aldeias humanamente ainda preservadas, e o nosso sol é tão brilhante e intenso e para além disso é o mesmo. Daí que meter-me num espaço mal arquitectado, cheio de betão, toneladas de gente arrastando os pés, sujeito ao turismo de massas que é horrendo e analfabeto e maria vai com as outras, não me excita minimamente. Por outro lado, é por esta e muitas outras formas de estar na vida dos espanhóis, que eu os admiro e gostaria de me transferir para Espanha. Aquilo é um povo com carácter, com raça, que se impõe aos jogos do poder com galhardia. Em Portugal, nunca uma tal acção seria possível. Somos mansos até ao abandono de nós próprios.   

         - Os Estados Unidos disseram a Netanyahu que fosse moderado na resposta aos 300 e tal mísseis e drones despachados sobre Israel há duas semanas por Teerão. Por isso, anteontem chegaram ao Irão uns tristes arremessos que não causaram danos e preservaram a dignidade dos judeus ortodoxos ferida. Eu creio que cenas destas não ficam por aqui. Ambas as partes acumulam anos e anos de ódio e destilá-lo é um bem que banha qualquer dos egos.   

         - Nos EUA, a Câmara dos Representantes aprova, enfim, ajuda à Ucrânia. Zelensky tem andado nitidamente há meses a esmolar armamento, ajudas para combater o ditador que, refinando de barbaridades, aproveitou a escassez de defesa do país para tomar terreno e destruir cidades e matar civis e soldados em número elevado. A Ucrânia não pode confiar na UE. Quando muito no Reino Unido que se tem mostrado célere nas ajudas e apoio psicológico. A Europa é demasiado complicada, os senhores eurodeputados têm uma vida solta, feliz, madraça e para quê incomodarem-se com uma guerra que não lhes diz respeito e os maça na sua rotina de bem instalados.  

         - Devido ao muito trabalho aqui, não fui a Setúbal assistir à missa na minha igreja de eleição – a dos Navegantes. Daí ter feito um intervalo para a celebração através da RTP1, hoje transmitida da Capela do Rato tão minha conhecida, embora nela não abundem obras dignas de referência e todo o edifício tenha a marca do séc. XIX no pior que conheço. Quem presidiu foi sua eminência o Cardeal Patriarca de Lisboa. Excelente homília, sem texto escrito, de coração aberto e cativante de substância. Deu-me gosto ouvi-lo e logo pensei que o Papa Francisco teve inspiração ao elegê-lo para orientar a Igreja de Portugal. Todavia, na melhor toalha cai a nódoa. No final do ofício religioso, D. Rui Valério, saiu-se com esta referindo-se ao dia de hoje, “um dia impactante.” Por amor da santa, senhor bispo! A modernidade linguística dos comentadores, das meninas jornalistas e dos meninos olé olé que povoam as televisões não é para seguir.