quarta-feira, abril 24, 2024

Quarta, 24.

Aconteceu que ontem, farto de trabalhar no duro com a benesse de uma noite abençoada, para folgar costas e rins, fui sentar-me de manhã na Brasileira e abracei literalmente o romance. Ali estive isolado não obstante o imenso ruído de vozes em várias línguas, das máquinas, do entra e sai de estrangeiros, de loiça, das ventoinhas do tecto a rodar em contínuo, dos empregados a circular fardados, do martelar das pás das máquinas de café em sucessivas tiragens de bicas a 2 euros e cinquenta cada, apesar disso ocupei duas horas arrastadas na folha do computador com o saldo de uma página enchida. 

         - Já hoje, arrimei de novo, pelas oito da manhã, ao labor que nunca parece terminar. Avancei de máquina em punho pelo lado da frente da quinta, contornando canteiros de flores e árvores de fruto, roçando a espessa erva de um metro. Depois fui dar um jeito ao canteiro de acantos, desbravando os fios de silvas no emaranhado das folhas gratas aos Gregos com elas adornaram templos e academias. sem olvidar as regas que já começaram no início da semana. 

         - E como vamos de democracia à portuguesa? De mal a pior. Luís Montenegro foi encontrar não sei aonde, um tal Sebastião Bugalho, para líder do grupo às eleições parlamentares europeias. Confesso que desconhecia completamente a existência deste “jovem comentador televisivo”. Como não frequento os canais de televisão nacionais, ignorava por completo a sua existência. Documentei-me e vi que tinha chegado a Lisboa a cavalo vindo da Escola Prática de Cavalaria de Santarém. Aqui arribado, fez-se comentador (mais um) na SIC e, esperto como deve ser, escolheu a veia dura do comentário, lanhando a eito, naturalmente influenciado pela dinâmica de “a arte de bem cavalgar a toda a sela”. Experiência política, peva. Exibe apenas um sorriso mirífico, um aprumo démodé, de lábios finos a denunciar um machismo duvidoso, apurado de elegância escalabitana, parece que se move desenvolto entre a classe política covarde e insegura que o teme. Foi um tiro no pé de Montenegro. O sujeito, perspicaz, percebeu que a televisão já deu uns quantos primeiros-ministros e chefes de Estado para além de pagar bem. Vai ser o primeiro desastre do PSD. Mas o “jovem” sai de Bruxelas cheio de bugalho que é por isso que todos lutam. Um milhão e duzentos mil euros é obra! Ao que consta (pelo menos da fama não escapa), é violento e descasca nas mulheres que tem tido. 

         - Prefiro a novidade de Vasco Gonçalves, vulgo Pedro Nuno dos Santos. Embora Marta Temido não tenha também experiência internacional, é figura incontornável de entrega à causa pública, tendo posto de parte os barões anafados do PS. Não votarei num e noutro, conservando-me fiel à coerência do meu voto nas legislativas que irá para o Iniciativa Liberal (sem apreciar o rabinho liberal). Lamento, mas o PS vai ganhar as europeias. 

         - O Liceu Pedro Nunes quer pôr ordem – e muito bem, enfim – à excitação de elas e eles exporem o que Deus lhes deu próprio da nonchalance juvenil. Elas aparecem na escola de calças justas, cortadas junto aos genitais, decotes-abismos por onde o olhar matreiro se perde; eles, armados em machões, de coxas grossas, rapadas, ar dengoso à matador, de chinelo nos pés, calções de praia deixando antever o que aflora sem preconceitos, ombros largos dos alteres, ar rufia à Galamba... É quase certo que as meninas e meninos do BE irão irar-se contra a tentativa de barrar a liberdade – devem ser os únicos que cooperam em irmandade com a juventude vulgar e obscena. 

         - Antes que me esqueça deixem-me anotar. Esta moda do decote arrojado, que trouxe para a televisão e para o espaço público as palpitantes mamas femininas, tem que se lhe diga. O descaramento é tal e tanto, que outro dia a cocelebrante na missa do Cardeal Patriarca de Lisboa, na Capela do Rato, trazia um vistoso decote em bico ladeado de pequenas montanhas. Ela lia o Evangelho, nós mirávamos o que saltitava sob o vestido de cetim. No fertagus eu já perdi a conta à quantidade e variedade de mamas que estes olhos que a terra há-de comer viu ou admirou. Estou à espera que os homens reivindiquem a mesma liberdade e exibam o que a natureza lhes deu em tamanho e consistência ...   

         - Marcelo diz que cortou relações com o filho devido ao caso das gémeas. Se assim é, admiro a sua coragem em trazer para o domínio púbico uma tal decisão da reserva do privado. Marcelo Rebelo de Sousa é original em tudo.