sábado, abril 20, 2024

Sábado, 20.

Estas linhas do artigo de João Miguel Tavares no Publico de hoje, são, simultaneamente, uma derrota do 25 de Abril que a esquerda comemora e uma vitória. Fracasso por vermos que as conquistas de Abril não são respeitadas, na só pela Justiça como pelos seus cúmplices deputados, ministros, membros dos vários governos, autarcas, juízes, administradores, magistrados, banqueiros; triunfo porque vivemos em democracia e podemos chamar os bois pelos seus nomes: “Boa parte dos grandes negócios que se fizeram na era Sócrates foram parar a tribunal; as PPP, as barragens, a Parque Escolar, a EDP, a PT, Manuel Pinho, o universo BES, uma cultura de poder e ganância que destruiu financeira e moralmente o país. Espremidos todos esses processos, temos o quê? Uma mão cheia de nada. Com altíssima probabilidade, Ricardo Salgado nunca irá passar um dia da sua vida na prisão. José Sócrates está há dez anos para saber se irá a julgamento, parte dos seus crimes irão prescrever, e mesmo que num dia futuro – hipótese louca – venha a ser preso, já terá certamente mais de 70 anos e os crimes que cometeu ocorreram duas décadas antes. Isto não é justiça.” Acrescento eu: isto – como eles costumam afirmar – é a democracia a funcionar...

          - Entretanto o Governo de Luís Montenegro vai-se descobrindo. Gosto particularmente do seu estilo de governar e de toda a equipa: serenos, sérios, falam q.b. sem propaganda, na linha do recomendável. Já reparam que o Chega ficou muito mais apagado desde que Montenegro tomou o poder? Sim. O primeiro-ministro não faz apenas política, pensa no adversário, trabalha nos dossiês em estreita combinação com os seus ministros. Tão diferente para melhor do seu antecessor! A tal ponto que, sem querer, acaba por por isolar o Vasco Gonçalves socialista na continuação da propaganda do passado.   

         - Um tal Carlos Tavares, português de ouro que dirige a Stellantis, auferiu o ano passado 36,5 milhões de euros!!! É um escândalo? É. É possível? É. A lei francesa permite? Sim, permite. Ainda que Emmanuel Macron  considere “excessivo”, “chocante”, “um salário astronómico que o gestor recebe”, o facto é que isso é legal. Nas tintas para o abismo de vida digna entre ele e os seus empregados, entre ele e a miséria global, os milhões de pobres, reduzidos a pequenos instrumentos nas suas mãos, a realidade é que se tivermos de assacar culpas a alguém, só as temos de pedir às leis que consentem um destempero salarial assim. Ocorre-me aquela exclamação do príncipe Pierre de Polignac: “L´argent me fait peur.”  

         - Vou prosseguindo no trabalho de cortar a eito as toneladas compactas de erva daninha que está por todo o lado. Isto é uma tarefa que não tem fim, pois onde há dois meses limpei, vou ter de recomeçar de novo. E pensava eu que isolado no campo, teria mais tempo para me consagrar à escrita! Estou à espera dos primeiros pingos de chuva que nos anunciam para ir fazer duas queimadas.