domingo, abril 28, 2024

Domingo, 26.

Sua excelência tem que ter protagonismo a qualquer hora e lugar: de manhã, à tarde, à noite, de madrugada porque não dorme e entende que há sempre alguém para o escutar. Desta vez porém, ficou isolado a falar para os povos dos séculos XV, XVI, XVII e por aí fora, que decerto também não o ouviram afogados no silêncio da morte Tanto a oposição como o Governo do seu próprio partido (será ainda membro?), não mostraram interesse em enfileirar nas suas opiniões de resgate do tempo, dos maus-tratos aos indígenas, da apropriação de valores históricos e artísticos, da presença dos portugueses em terras hoje legitimamente habitadas pelos nativos do outrora imenso império português. Só o Chega se levantou numa fúria à Trump, porque Ventura necessita daqueles actos heróicos se quiser sobreviver. Como não tem ideologia, plano, programa vai sobrevivendo apanhando no ar toda a espécie de lixo que o seu próprio vendaval provoca. Corajosa foi a demarcação de Luís Montenegro das palavras e propósitos de Marcelo. Como lúcido é todo o artigo de António Barreto no Público de ontem que aqui deixo este parágrafo. “A dor por procuração é tão inconveniente quanto (eu diria como...) o orgulho por recordação.” E este: “Quem quer julgar, hoje, os reis e os escravos de há séculos, quer hoje qualquer coisa. E não se trata apenas de bons sentimentos: quer poder, bens e poleiro.” 

         - Nós somos o que somos, isto é, pobretes mas alegretes e disso não passamos venham as revoluções que vierem. Nestes últimos dias, os telejornais abriam com cenas do pagode do Norte envolvido em contendas para eleger o presidente do Futebol Clube do Porto. Aquilo era um tempo impossível de antena, como se o país vivesse num sufoco de vida ou de morte, e todos os dramas e alegrias do mundo inteiro tivessem desaguado nas ruas lúgubres da cidade Invicta e por acréscimo em todo o Portugal. Hoje, no supermercado e no café onde entrei para tomar a bica, havia velhos a discutir a derrota do velho homem que governou a máquina de fazer dinheiro durante 40 e tal anos e diziam que estiveram até às duas da madrugada a assistir à divulgação dos resultados. Bah! Como é possível! Há nesta alienação qualquer coisa de trágico e de infantilidade, como se nós, neste canto da Europa, de mão permanente estendida à UE, estivéssemos ao abrigo das guerras, da pobreza extrema, das calamidades que espreitam nesta altura quase todo o mundo. Disso não falam os políticos medíocres, como nada disseram (ou muito pouco) nestes oito dias de paralisação das eleições do FCP, jornais e televisões. Bem-haja esta obsessão nacional. Tão oportuna para políticos espertos, que sabem como entreter o povo ficando eles com um vasto campo de manobra para os seus interesses e conluios e desbaratamento das energias nacionais. Salazar funcionou assim 48 anos. Futebol e de tempos a tempos uma esmola na forma de subsídio ou ajuda temporária como fez habilmente António Costa. Isso é suficiente para deixar o povo entretido enquanto vocês ficam entregues à venda da banha da cobra do comunismo, do socialismo, do liberalismo, fascismo e todos os ismos. O futebol é o vosso aliado. Salazar ensinou-vos tudo; vocês, ingratos, não lhe agradecem.