domingo, março 24, 2024

Domingo, 24.

Anteontem, numa sala de espectáculos, em Moscovo, houve um acto terrorista na verdadeira acepção da palavra, que matou até agora 139 pessoas, feriu centenas e provocou um incêndio terrível visível no meio dos escombros do centro comercial. Um grupo de homens do Daesh reivindicou o ataque. A sala estava lotada com mais de 6000 espectadores, onde um grupo popular devia actuar minutos depois. Putin, apreçou-se a culpar a Ucrânia, um crime a somar a outro crime, pois tais actos nunca fizeram parte das investidas de guerra da Ucrânia. 

         - Fui ontem à noite ver o filme de Christopher Nolan, Oppenheimer. A fita arrasta-se por três longas e por vezes insuportáveis horas. O papel do físico da Universidade da Califórnia, foi confiado a um actor de primeira água, Cillian Murphy que, de resto, obteve o Óscar da Academia para a melhor interpretação. É a trágica história do nosso desgraçado destino, com a série de físicos e cientistas a estudar e a construir a bomba atómica. É também a narrativa das consequências políticas da sua utilização, do desafio das nações em competir para a ter, e, sobretudo, é a visão distorcida de uma curiosidade que começou em certa medida com Einstein e foi tapete de esperança para Hitler e depois para Staline e hoje para Putin e logo à nascença para os americanos que a lançaram sobre Nagasaki e Hiroxima, em 1945. Baseado no livro Prometeu Americano: o Triunfo e a Tragédia de J. Robert Oppenheiner de Kai Bird e Martin J. Sherwin, passado na Segunda Grande Guerra, em Los Alamos, quando um grupo de infatigáveis físicos ensaiaram os primeiros passos para aquela que viria a ser - quero pensar que sim, embora tenha muitas dúvidas -, o equilíbrio de forças entre americanos e russos na altura e hoje entre todas as nações que possuem a arma nuclear. O realizador, chamou-lhe “um filme sobre consequências” e eu acho que todos os candidatos a dirigir qualquer país do mundo, deviam ser obrigados antes de serem investidos na função, a ver este documento. Einstein aparece por lá, perdido, com a sua figura patusca, mas a essência da História nunca mais foi a que vigorou até à Segunda Guerra Mundial. O que nos espera e vivemos neste momento, é assustador. Um louco – e tantos têm nascido com a democracia -, pode repetir em maior escala aquilo que a infantilidade de Truman experimentou no Japão. Findo dizendo que o naipe de actores que contracenam com Cillian Murphy, são absolutamente notáveis.  

         - O comboio que me trouxe de regresso a casa, vinha à cunha de gente da mais variada condição e estatuto: noctívagos, bêbados, homos, africanos desvairados, negras de rosto cansado com crianças ao colo, uns tipos que tocavam viola, outros meditativos a observar as povoações salpicadas de pequenas luzes. A dada altura ouve-se uma voz feminina: “Devido a condicionantes da infra-estrutura, somos forçados a abrandar a marcha, pedimos desculpa pelos incómodos causados.” Nem parece que estamos em Portugal esta atenção aos passageiros! E tudo, porque os barões das Infra-Estruturas que deviam zelar pela CP onde corre o Fertagus, não o fazem. Felizmente que temos aqui uma empresa privada que nunca faz greves, cumpre horários, cuja limpeza e asseio no interior é impecável, e deve ser por isso que os outros a querem nacionalizar. Cruzes! 

         - A Piedade, quinta-feira, quando limpava a mesa de apoio no salão: “Todos os dias há novos livros. São novos amigos que entram” – respondi.