quarta-feira, março 06, 2024

Quarta, 6.

Eu não conheço as vidinhas desta gente que de repente aparece a gerir o país, sentada nos bancos da Assembleia Nacional, à frente de empresas estatais e assim. Decerto impulsionados por mães e tias, que antecipam neles as grandes figuras do século XX e XXI, saídos de meios humildes e equilibrados, sem rasgos interiores, mas suficientemente espertos para entenderem o estado das coisas e as formas de alcançar os objetivos que o meio familiar não lhes pôde facultar. É o caso do homem do Chega. João Miguel Tavares que sempre se documenta muito bem, brindou-nos com este naco de prosa de um sabor incomparável: “As dores de crescimento de André Ventura (...) Ele tentou dar nas vistas a comentar casos de Justiça; tentou dar nas vistas como escritor de romances-choque – o primeiro, de 2008, intitulava-se Montenegro (e qualquer coisa) e o seu protagonista era um ciclista com sida chamado Luís Montenegro (não estou a gozar); tentou (e conseguiu) dar nas vistas como comentador de futebol; escreveu inclusivamente outro livro com a taróloga Maya, intitulado 50 Razões para Mudar para o Sport Lisboa e Benfica; tentou também dar nas vistas como candidato à Câmara de Loures pelo PSD”. Fico-me eu por aqui sem fôlego, porque os rasgos circunflexos de águia no homem são absolutamente surpreendentes e próprios de um país de terceiro mundo. 

         - Tenhamos paciência: só faltam dois dias para que Portugal entre no silêncio próprio de um país civilizado. Nem tudo foi, com efeito, mau. Não tivemos o tagarela do Presidente da República em permanência, ouviram-se muitas verdades surpreendentes, a feira da ladra conheceu aqui e ali alguns momentos hilariantes, a propaganda socialista com a chamada de António Costa à liça para se vangloriar da redução da dívida nacional e do desemprego controlado: um devido ao aniquilamento do país; o outro à miséria dos ordenados, ao aumento da pobreza, à desordem nacional. Curiosamente, o único que toda a gente aplaude embora não tivesse sido ideia apenas sua, refiro-me ao passe Navegante, nunca é citado. Pois é por esse simples cartão que tanta ajuda deu ao povo português que ele será recordado. Pregue o Vasco Gonçalves socialista o que quiser, nada foi verdadeiro na passagem pelo poder com maioria socialista, que esse papel que tanto facilitou a vida de toda a gente, que não possui para se deslocar os carrões do Estado pagos com os nossos impostos, muitíssimos mais excessivos com Costa que no tempo da troika com o competente Passos Coelho. Todavia, agora que Bruxelas vai entrar em economia de guerra, ali como aqui os socialistas que governaram apenas para o prestígio dos seus camaradas da UE, ambos considerando as pessoas como uma abstracção, vamos ver quem estará à altura do desafio que aí vem.  

         - Ontem, não tendo saído deste presbitério, cumpri o dia como manda a ordem cisteriana ou franciscana: trabalho e oração. Assim, em duas sessões, uma de manhã outra à tarde, rocei erva em frente da casa, li duas horas, e não abri o computador. Ufa!