terça-feira, fevereiro 09, 2016

Terça, 9.
A Annie telefonou no retorno da sua viagem ao Vietnam. Estivemos à conversa para cima de uma hora. Trouxe de lá um vírus de tal modo violento, que está à carga de antibióticos fortíssimos. A coisa parece não ter corrido bem entre ela e a Françoise, ambas socialistas de gomo. A primeira mais caviar e champanhe, a segunda cerebral e romântica. Françoise de quem gosto muito, tomou-se de súbito pela rainha de Inglaterra exigindo de todos aquilo que se achava no direito devido ao preço exorbitante do projecto. Annie e Robert, sendo diferentes no modo de tratar quem os serve, amuaram e às tantas tiveram mesmo de dizer do seu desagrado. Eu conheço o género. Já aqui abordei o tema e compreendo perfeitamente o que sentiu a Annie ao ter que lidar com este esboço novo-rico alarve que alastra por todo o lado. Eu tenho um grande respeito pela empregada de caixa ou pelo empregado de mesa, admiro a sua generosidade no trato com pessoas que não conhecem de lado nenhum, e estou sempre pronto a perdoar “qualquer coisinha”. Acho até que o verdadeiro aristocrata é aquele que não descrimina, que tem mais respeito por quem o serve que por essa casta de oportunistas que escalaram a política para se servir. Depois, quando nos aproximamos daquelas personagens arrogantes, vemos que não passam de gentalha sem cheta nem princípios, para quem a relevância das suas pessoas vem da importância dos sacos de plástico onde guardam uns míseros euros e escondem a sua condição de favela.   

         - Aqui no “Alegro somos todos nós” (que maravilha de originalidade! Eu que trabalhei anos a fio como copy, ao lado disto, sou uma nulidade!) onde venho diversas vezes trabalhar e onde me encontro, uns lamechas admiradores dos livros, montaram entre os dois pisos do parque de estacionamento, um recanto com uma estante repleta de livros, duas cadeiras e um candeeiro. Supunham eles, provavelmente, que estavam num desses países civilizados da Europa central ou então tinham a pretensão de desviar o português dessa atarantação colectiva e fanática que é o futebol. O facto porém, das n vezes que por ali passo, nunca vi ninguém interessado nas belas Citações de Bocage (o livro está como sempre esteve desde que inauguraram esta grande loja de materiais de construção, preso por uma corrente revestida, assim como todos os outros dispostos na estante: O Recruta de Robert Machamore, o Diário de um Banana de Kinney admiráveis e de sustança e representativos da moderna literatura) e nunca leitor algum se deu ao trabalho de virar a página.

         - O tempo corre contra os infelizes que estão nos escombros dos prédios aldrabados derrubados pelo sismo a Sul de Taiwan. Parece que pelo menos uma centena de pessoas está em agonia e os bombeiros ouvem ainda passadas quarenta e oito horas gritos de socorro. O número de mortos, subiu para quase cem.  


         - Plantei uma dúzia de Sparaxis que trouxe de Paris, limpei o pátio do lado Norte da casa, comecei a abrir a cova para transplantar uma figueira.