quarta-feira, fevereiro 17, 2016

Quarta, 17.
Pressinto que a aclamação da eutanásia, seja mais uma questão economicista que uma verdadeira compaixão pelo doente em estado terminal ou vegetativo. Porque tal como na altura da lei do aborto me insurgi por achar que a educação sexual e a adopção de métodos anticonceptivos seriam os mais apropriados, também agora nesta questão me parece mais acertado blocos hospitalares com serviços de cuidados paliativos, que permitam à pessoa morrer dignamente e sem sofrimento. Aquilo a que os analfabetos chamam “o direito à morte”, entenda-se ao suicídio, não passa da constatação que Deus nos criou livres e, portanto, com capacidade de decidirmos a todo o momento se queremos viver ou morrer. Cristo podia ter escapado da morte na Cruz, mas preferiu dar a vida por todos nós, escolhendo morrer por uma causa redentora. Isto para dizer que não sou eu que vou julgar aqueles que optam por deixar de viver elegendo métodos antinaturais, mas não me parece lógico que seja o Estado que já interfere em tudo, a legislar sobre uma decisão tão íntima. No futuro, baseado na lei, seremos mortos ou antes liquidados, porque estamos velhos, porque saímos caro ao erário público, porque somos doentes, em suma, porque somos considerados a mais. A fronteira, como sempre nestes casos, é muito ténue. Depois nesta matéria, como em pouquíssimas, há a considerar cada caso, preferindo eu sempre a morte suave, assistida nos derradeiros momentos pelos avanços da medicina. Julgo que as pessoas pedem a morte porque já não suportam o sofrimento e não porque queiram morrer. Até porque para quase toda a gente, o que está para lá deste mundo é uma incógnita de tal modo insondável, que todos evitamos pensar nela e os filósofos antigos tiveram que criar a filosofia e a Igreja o salut de forma a ajudar-nos nessa passagem instantânea que num segundo não somos mais quem fomos.

         - A guerra é sempre uma aberração. No caso da Síria que dura há já quatro anos, ceifou milhares de vidas e levou milhões de pessoas a fugir, é uma vergonha que nos atinge a todos. Há dias dois hospitais foram bombardeados, morrendo para cima de uma centena de pessoas. Quem foi o assassino? Ninguém sabe ao certo, porque a guerra é também uma extraordinária arma de propaganda que serve a todos os beligerantes. Uns dizem que foi o exército de Assad apoiado pelos russos, outros os guerrilheiros que o combatem, outros ainda os barbudos da Daech que impuseram a horrenda moda da barba a todo o mundo civilizado. E, todavia, ontem vi na televisão o bêbado que está na origem disto tudo, exibindo uma carantonha de satisfação, no apoio ao irmão que se candidata a Presidente da América. Como é possível! Só num mundo desengonçado, com os valores putrefactos e um cheiro nauseabundo a corrupção e a sanidade mental desequilibrada. 


         - Vou-me despachar porque tenho hoje um dia atafulhado de afazeres. Daqui a nada vou fazer uma hora de natação e depois do almoço sigo para Lisboa, o pé a fundo no acelerador, porque antes do jantar em casa dos Couto ainda tenho vários afazeres a concluir. Sem esquecer a tarte de maçã que vou preparar para a mesa dos meus amigos.