sábado, fevereiro 20, 2016

Sábado, 20.
Ontem fui lanchar ao CI e conversar com o ZVP mais british que nunca. Refastelados nos cadeirões, quedámo-nos por uma hora em torno de livros, autores e do irmão, hoje com 88 anos, nosso antigo embaixador em Londres, Munique e outras partes do mundo, um homem cá dos meus, não obstante a idade e as maleitas a ela associadas, continua a ler desalmadamente. O sobrinho esta semana aviou-lhe uma lista de livros que ele devora com o mesmo interesse e curiosidade eternos. Sempre viveu só e parece com prazer e estoicismo. Apesar dos membros inferiores não lhe permitirem grandes deslocações, assim que um sobrinho chega, encontra-o pronto para a dança. Eu acredito que gente deste calibre, morre tarde e relativamente bem preparada para encarar a velhice com altivez, pela simples razão -  aprenderam bem a disciplina estóica.     

        - David Cameron respira de alívio. Julga por ter conseguindo o que só ele exige conseguir, desprezando todos os outros países que ele queria ver fora da UE, contra a luta epopeica da Grécia que afrontou os anafados barões de Bruxelas (Portugal foi sempre subserviente), julga agora ter o Sim dos ingleses no referendo que prometeu fazer sobre a continuação do país na União Europeia. Talvez se engane. Quer-me parecer que o resultado vai ser um formidável pontapé no rabiosque para que aprenda os valores da dignidade e dos compromissos assumidos em nome de todos. 


          - Helder, deixa essa pobre gente. Olha o dia, a tarde de sol aberto, branco, luminoso. Há tanto tempo não contemplavas o esplendor do astro-rei oferecendo-te a vida nas pontas da luz da alegria. Respira fundo depois de uma hora de jardinagem, alegra-te por teres conseguido encontrar quem te arranje a roçadora, o corta-relvas, folga de júbilo pelos momentos que passastes na Luísa Todi, sob um calor que afaga, a ver livros e porcelanas, admira a chávena inglesa a que não resistes, folhei-a deliciado o dicionário de 1945 da Academia das Ciências de Lisboa que trouxeste como um tesouro... Deixa para lá as comadres políticas, cinge-te ao que é importante, ao que conta na tua vida interior, pequenos nadas que são de grande riqueza e não são disputados por essa turba de mangas-de-alpaca que só conhece o valor da merdelhice dos cifrões.