sábado, fevereiro 27, 2016

Sábado, 27.
A campanha do BE a favor da adopção por casais gay é infame. Não tanto pela mistura indecente à imagem de Jesus Cristo, mas porque transforma uma evidência em provocação inútil. Que todos os crentes possuem dois pais (o espiritual e o biológico), é um facto que só os transcende num destino de ligação eterna, numa simbiose de amor que nada tem a ver com a união heterossexual e muito menos homossexual. O aproveitamento de Cristo para uma tal “conquista” a mim ultrapassa-me. Não compreendo como podem os homossexuais querer adoptar a vida ronceira dos heterossexuais, quando têm tido uma liberdade que faz inveja aos casados, alheia aos comportamentos normativos que os prendem a obrigações e existências de uma banalidade de morte. Acresce que Jesus Cristo não escolheu o casamento como forma de vida.  

         - Outro dia, no Amoreiras, depois de largar o Filipe, cruzei-me com uma beauté que me atirou uma olhada provocadora. Segui caminho como uma donzela recatada que não liga ao primeiro que lhe sai ao caminho... Entrei numa loja, depois noutra e quando estava na terceira indeciso se devia ou não comprar a peça de mobiliário original que me cativou, ei-lo ao meu lado interessado também na mesma pequena estante. Aí, porém, o sorriso estatelou-se por assim dizer no seu rosto bonito, onde uma barba mal semeada traduzia a pouca idade. Murmurou não sei o quê tão baixo que não percebi. Como devia andar por um metro e oitenta, as palavras volatilizaram-se sem que eu abarcasse ao que vinha. O seu rosto porém, dizia-me qualquer coisa, parecia-me familiar, sem que eu descortinasse de onde. Vim a saber à noite já em casa, quando liguei a televisão e o vi na frente representando a personagem de uma dessas telenovelas que preenchem o serão dos portugueses. Suspirei: a ton âge, jeune homme!

         - O Inverno chegou enfim! Poucas noites acendi a lareira, mas há três dias que ela é uma presença sussurrante no salão. Como um ser a quem podemos abrir o coração, as flamas enchem as horas de um diálogo aconchegante e apaziguador. Se ela pudesse testemunhar tudo o que ouviu ou retribuiu, o pequeno mundo daqui floriria num clarão de secretas inquietações e florescências cativantes.

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