segunda-feira, agosto 29, 2022

Segunda, 29.

Faço interregnos de dois três dias de leitura em Um Diário Russo. As atrocidades praticadas às ordens do algoz Putin e seus apaniguados, são de tal modo selvagens, desumanas e criminosas que preciso de pedir à vida que levo num país e num sistema democrático e em liberdade, que me reoriente os sentidos e instale o sagrado que há em toda a existência humana. Deus nos livre dos ditadores, dos déspotas, das luminárias que encerram em si toda a verdade. A Rússia dos dias de hoje, está assente no pior estalinismo que escapou a Estaline. 

         - Falámos muito ontem depois do almoço lá fora, a tarde estendeu-se e só quando o Sol começava a descer no horizonte, eles partiram deixando este espaço mergulhado num silêncio perturbador. Vítor diz temer mais o regime chinês devido às suas técnicas de expansão. E ao lado deste aquela coisa bizarra que dá pelo nome de Kim Jong-un, líder do Partido dos Trabalhadores da Coreia do Norte, desde 2012, como se os trabalhadores fossem ouvidos ou achados para o que quer que seja. A par disto, falou-se da juventude actual e do seu destino num mundo e em muitas democracias em vias de passarem a autocracias se não estivermos atentos. Sobre isto, quando o tema é abordado, levanto sempre esta pergunta: que se espera de uma sociedade que vive alimentada por futebol, concursos televisivos, concertos de Norte a Sul, telenovelas, a marrar nos telemóveis, a teclar banalidades que aprende diante do ecrã e julga ser a cultura e o progresso que a faz entrar no futuro protegida e reforçada contra os infortúnios da vida? Esta sociedade está preparada para se entregar sem um lamento a qualquer salvador, os condimentos fátuos onde hoje assenta o quotidiano social, são os alicerces pacientemente levantados para a emparedar. 

         - Vítor acabou de editar uma nova versão de as Cartas de Soror Mariana Alcoforado. Partimos daí para uma viagem sobre o mundo da edição, os escritores do momento, os outros que foram ou estão postos de lado, porque indisponíveis a pagar para trabalhar. Disse-lhe que devido ao aumento do papel (uma amiga que labora no sector, falou-me a semana passada em aumentos para o dobro), a publicação de livros vai apertar ainda mais. O Vítor é dos que acreditam em mim, e aconselhou-me a aceitar as condições de uma editora que me chaga amiúde com epítetos de “uma voz original”, mas com a condição de à voz juntar uma soma para a publicação. Recuso. Este meu terno amigo, desde os tempos em que começaram a sair os meus livros, os colecciona e às cartas que eu lhe escrevia para Montpellier onde leccionou. Além de que estou convencido, que devido às minhas posições políticas, não arranjarei editor – o Vítor concorda. Mas disse-lhe da imensa liberdade que tenho, sem precisão de continuar a bajular idiotas e medíocres, de prosseguir nesta linha de profunda criação artística.