sexta-feira, agosto 12, 2022

Sexta, 12.

Ontem, quando subi para me deitar, comecei com tonturas e tive de me agarrar à cama para não cair. Assustei-me sem saber o que fazer. Aquilo parecia que tinha montado a um carrossel. Já sobre o travesseiro, voltando-me ora para um lado ora para o outro, o quarto não parava de me arrastar naquele movimento que me parecia cómico e aterrador. Antes tinha medido a tensão: 12 – 6,2. Boa, portanto. Decido adormecer e quando acordei a meio da noite (desde há uns tempos coisa rara), vou às apalpadelas ao quarto de banho. De regresso à cama, estendo-me com cuidado e pouco depois estou no planeta dos deuses. Acordei pelas sete horas. Analiso-me, apalpo-me, olho a pintura do Carlos, os desenhos do Ferreira, os livros nas mesas, a janela ao fundo e, aparentemente, tudo voltou à normalidade – ninguém dança a valsa e muito menos o corridinho. Tenho a cabeça vácua, cansada, e digo para mim: “Helder, guarda os pensamentos, os delírios, a criação de personagens, as ideias trágicas, o concerto das dezenas de livros que nunca comporás e vive hoje o dia sem escrever uma só palavra - mesmo neste diário.”