quarta-feira, julho 12, 2017

Quarta, 12.
Normalmente levo três horas para encher uma página de O Juiz Apostolatos. Saio com a cabeça em água, os músculos doridos, o corpo todo tenso como se tivesse trabalhado um dia inteiro na estiva. Contudo, quando escrevi O Pesadelo dos Dias Felizes, chegava a ficar manhãs e tardes num estado de exaltação que tinha de interromper a miúde para não resvalar na loucura. Já O Rés-do-Chão de Madame Juju, decerto porque havia feito várias tentativas, algumas das quais atingiram cem páginas depois destruídas, magicado durante vinte anos, não vou dizer que ça coule de source, mas tinha a graça de nalguns dias ultrapassar as duas páginas.

         - Há duas figuras marcantes na Bíblia: uma no NT: Paulo de Tarso, outra no AT: Job. Ambos temperamentais, nervosos, obsessivos, fascinantes.

         - Tenho dias que digo para mim mesmo “aqui o trabalho não finda mais e é uma escravidão”; tenho outros dias, como o de hoje, que murmuro sem que ninguém me ouça “ainda bem”.

         - Aportaram aqui uma série de dias resplandecentes acompanhados pelo canto do cuco. A água da piscina continua apetitosa e limpíssima, em torno do arvoredo um coro afinado réplica com vozes celestiais, enquanto eu pratico o exercício de meia hora e depois quando me estendo ao sol a ler. Sob a abóbada celeste, o céu de um azul imaculado, vela. Que pode um pobre artista mais desejar!