Domingo,
9.
Há
dias tive um serão grandioso, sublime e de um encanto sem igual. O canal 2
francês transmitiu um excelente espectáculo: Musiques en Fête (no plural). Assim, ao lado do Avé Maria de Caccini ou das áreas de
Verdi em Macbeth e Nabucodonosor cantadas por Beatrice
Mouzon, acompanhada pelo coro da Ópera de Parna, não faltaram os tangos de
Carlos Gardel, a música tradicional da Bretanha, a até Serge Gainsbourg cantado
pela mulher Jane Birkin. Mas também canções de Offenbach, Rossini, Donizetti,
Mozart (Cosi Fan Tutte, a Flauta Mágica), Puccini (La Boéme) servidas por tenores,
barítonos, sopramos, gente da qualidade de um Florian Sempay, Philipe Talbot,
Florian Laconi e passo. Os nossos canais transmitiam futebol, falavam de
jogadores, discutiam a “ciência” desportiva num português de bairro de lata.
- Sexta-feira abordei com o João os
temas eternos dos incêndios e do roubo de material militar em grande escala -
não chegámos a nenhuma conclusão. Se este é o remate connosco, o que será com a
maioria dos portugueses. No final, garanto-vos eu, não haverá culpados, o
silêncio ensurdecedor selará a campa dos mortos e ninguém dirá que as armas
usurpadas de Tancos estão nas mãos de jihadistas e terroristas. Também ninguém
acusará os militares de cumplicidade num crime, nem dirá que os sistemas de
segurança que custaram milhões foram ineficazes. Todos, unanimemente, dirão:
“não se passou nada”.
- Voltei a jantar em casa da Mariette.
À mesa vários franceses de passagem. Entre eles um economista com tribuna num
jornal. Abordou-se o tema do emprego, ou antes do desemprego que os socialistas
passaram de 14 para 9 por cento em dois anos. Perguntam-me se acredito no
milagre. Sou claro: não. Então falou o economista para dizer que ele e os seus
colegas também não. E justificou com números que dizem ser impossível em tão
pouco espaço de tempo descer 5 pontos. Chut. Outra coisa que os surpreende, é o autor da maior carambola bancária nunca tenha sido preso.
- Acabou a cimeira chamada G19+1 sem
acordo e em autêntica guerra campal. Donald Trump fez a diferença, mantendo a
sua no concerne ao Tratado de Paris sobre alterações climáticas. Chou Chou,
perdão, o rei de França, andou de sorriso em sorriso, espécie de coqueluche num
mundo de vanidades e falsidades. Trump é o único que faz a diferença, goste-se
ou não dele. O coro convergente na ronceirice e no patuá que entretém e para o
entreter se gastam milhões num só fim-de-semana, combinou não desarmar e
prosseguir no logro que aponta os interesses das grandes multinacionais. Felizmente,
os habitantes de Hamburgo onde a coisa se realizou, receberam activistas de
vários pontos do mundo, e juntos organizaram o protesto que terminou com mais
de 200 polícias feridos e para cima de uma centena de militantes presos. Eles
gritaram contra o capitalismo, e disseram ao mundo que este está como está
porque é gerido por uma casta de gentalha ensandecida pelo dinheiro e indiferente
aos valores que dizem defender.