sábado, julho 22, 2017

Sábado, 22.
Lisboa. Cidade onde nasci, me criei, me fiz o pouco que sou. Conheço-a como a palma das minhas mãos, quero dizer o centro, as avenidas novas, o Cais do Sodré, do lado do aeroporto, Expo, Belém até Cascais. Tendo vivido a infância e adolescência na Rua do Salitre, depois na de S. Marçal, entre o Chiado e o Rato, quase não a reconheço transformada numa espécie de souk marroquino. Acontece que fui ontem passar uma hora com o Simão à Rua dos Fanqueiros, tendo descido do Chiado a pé e atravessando toda Baixa literalmente varrida por povos europeus com cheiros e modos africanos, arrastando os pés pela calçada em abrolhos de gente barulhenta, alparcatas nos pés, quase despida, reinando nas ruas como se fossem os bairros sociais onde nasceram e cresceram sem conduta nem respeito por ninguém. A capital está irreconhecível. A choldra é total, a civilização desapareceu, a ganância fez dos negócios tradicionais produto aldrabado, os chamados B & B ou os hostels como chamam aos quartinhos alugados à hora ou ao dia (não há homo que eu conheça que não tenha embarcado no negócio), invadiram as velhas artérias, os prédios pombalinos, por todo o lado há gente a puxar malas, a empurrar quem com eles se cruze nos passeios estreitos, a não respeitar semáforos nem a conduta colectiva, numa anarquia que esventra as fachadas, entope as ruas, inunda de imundice todos os espaços, com níveis de decibéis nunca antes vistos, isto depois de terem corrido com as velhas e os velhos das suas habitações, os terem empurrado sabe-se lá para aonde, na fúria do que chamam turismo e dizem ser a varinha mágica da economia que o governo não sabe fazer, desleixando a indústria como alavanca segura de crescimento. Todo este “progresso” desaparece de um dia para o outro, bastando que um qualquer barbudo do Daesh lance num qualquer canto da cidade uma simples bomba de carnaval. É tiro e queda. Nada disto possui consistência, não entra nas estatísticas que o Mágico adora, nem nos afectos de Rebelo de Sousa. É areia fina que passa através dos dedos daqueles que teimam em ganhar dinheiro fácil, de pressa, sem trabalho e sem pagar impostos. Enfim, moche, moche, moche.


         - Com efeito, o país está melhor. Dou-vos duas provas. O Corte Inglês passou a cobrar o transporte de tudo o que lá se compre e seja necessário levar a casa. A Caixa Geral de Depósitos, passou a cobrar seis euros/mês a todos os depositantes.