Quarta,
19.
Ontem,
a caminho do meu dentista, no metro, três ingleses de chinelo, faziam uma
algazarra como se estivessem a delirar com a sua equipa de futebol. Os olhares
indignados eram mais que muitos. Eu seguia sentado ao seu lado, e a dada
altura, não podendo mais suportar a vozearia, atirei com toda a minha
irritação: shut up! O rapaz que tinha
a carpete chinesa estampada no corpo, virou-se a mim. Felizmente que um homem
português, espadaúdo, encostou-o, literalmente, à carruagem e a ocorrência ficou
por ali. Se a coisa se tivesse passado com o Corregedor, era certo e sabido que
o nosso deputado se teria virado a ele ao murro... e só se perdiam os que
caíssem no chão.
- A cena do roubo de armas já
praticamente saiu da ribalta sem culpados nem apanhados os ladrões. Resta os
incêndios onde por todo o lado (ontem na paragem do autocarro e no café do
Corte Inglês) o pagode diz não haverá ajuda para ninguém e os políticos
encontraram um meio de viajar e mostrar-se para as câmaras de televisão. Responsáveis
é algo que ninguém sabe onde estão. As populações afectadas, a dor dos que
morreram naquela fatídica estrada que a Polícia deu por segura, é coisa do
passado. O país continua com os mesmos, a mesma propaganda ruinosa, os mesmos
assassinos à solta, o mesmo canto de sereia sobre as virtudes da economia, do défice,
dos afectos e das festas populares e da entrada da nova época futebolística. Esta
fatalidade nacional é característica de um povo inculto, inconsciente, sem
ambição nem grandeza.