segunda-feira, julho 17, 2017

Segunda, 17.
Sobra da muita desgraça que se abateu sobre as pessoas, a actuação de toda a esquadra de Alfragide que, segundo o bom trabalho do Ministério Público, maltratou, humilhou, torturou um grupo de jovens negros na mais pura e insana forma de racismo. Os dezoito agentes acusados de todos os crimes, deviam ser presos se a democracia funcionasse. A Cova da Moura, há muito que é não só estigmatizada com todos os epítetos criminosos, como sofre calada as investidas selvagens daqueles que a deviam proteger.

         - Lula da Silva, ex-Presidente brasileiro, foi condenado a nove anos de prisão. O tribunal considerou que ele esteve implicado até às orelhas na Operação Lava-Jato. Que fez o querido político? Respondeu como responde José Sócrates e todos os outros: “Há uma tentativa para me retirar do jogo (atenção à palavra, ela diz tudo) político” e como tal vai recandidatar-se à presidência do Brasil. Lá como cá, de resto, os nossos incorruptíveis governantes, respondem malbaratando a democracia. Veja-se o caso de Isaltino Morais, Narciso Miranda, aquele grupo aldeão de Viseu, Avelino Torres, João Nabais, Valentim Loureiro e passo porque são para cima de meia centena os casos de autarcas corruptos que o Livro Negro da democracia inscreve. Já agora, um bem-haja ao Governo por não ceder à tentação de distribuir os milhões que os portugueses deram para ajudar as pessoas afectadas pelos incêndios pelas autarquias. Estas bem barafustaram porque caía muito bem aquela pipa de massa nos seus bolsos, perdão, nos seus cofres.

         - Nestes últimos meses tenho lido muito S. Paulo. Por via disso, mantenho com o Carlos conversas muito interessantes e esta manhã ele disse-me que o contagiei e está também a reler o apostolo. A conversa estende-se, tomba como cerejas maduras, e de repente estamos no Vaticano a falar de Miguel Ângelo que não sabia latim. Pergunto-lhe se conhece a sala dos modernos do século XX que existe à entrada, à direita do vasto hall do museu. Diz-me que não. Mas fala-me das obras religiosas de artistas recentes com desagrado. “Aquilo, daqui a pouco tempo, o Vaticano vai ter de chamar o carro do lixo para levar aqueles cristos, aquelas virgens, aqueles santos torcidos e contorcidos.” Ri-se. Eu prossigo: “A grande diferença entre a imagética religiosa dos princípios do cristianismo até ao séc. XVIII, comparada com os nossos contemporâneos, reside no facto de eles estarem imbuídos da fé e pela fé criaram obras excepcionais que nos suspendem a respiração quando as admiramos, ao passo que os nossos hodiernos não a possuem e por isso produzem mamarrachos.”


         - Ontem à tarde, grande perturbação com a presença de algo que eu julgava encerrado para sempre e verifiquei que a natureza rejeitou esse meu desejo, rebelde como é. Pior: eu sabia como esses sentimentos começam e terminam, mas não imaginava fosse da maneira como veio a acontecer. Enfim, fraquezas! O corpo recusa-se a aceitar o que a mente impõe e o resultado foi o mesmo arrebatamento de quando tinha quinze anos e não dominava os impulsos e os tormentos sensuais que chegavam em catadupa de todo o lado: um olhar, um toque, um sorriso, um rosto iluminado pelo desejo, uma incandescência carnal que só parava com o abandono, a extinção do sopro, do suspiro, da proximidade da morte... Regressado a casa, feliz e abatido pelo incidente, atirei-me a fazer scones que nunca me saíram tão bem...