Quarta,
26.
Ontem,
badalando-me pela Baixa, entrei na igreja de S. Nicolau que fica junto ao
elevador de Santa Justa. O Senhor estava exposto no altar e no templo umas
cinco pessoas em recolhimento. Lá fora a canícula insuportável que nos fatigava
e desalentava. Ali, no completo silêncio da oração, momentos de paz, longe do
bulício da cidade atravancada de turistas. O silêncio é o único toque no manto
divino de Jesus Cristo.
- Almocei no Sinal Verde, à Calçada do
Combro. À mesa Virgílio, Alexandre, Álvaro e o um colega, mais tarde chegou o
Irmão. Nada a registar, a não ser o facto que me começam a cansar estes almoços
longos, regados abundantemente e durante os quais não se pode ter uma conversa
decente devido ao álcool e ao ruído em volta. Melhor está-se na Brasileira onde
as conversas sobem de nível e o tom é mais íntimo. Logo depois, entrei na Caixa
para acordar com a minha gestora de conta, uma rapariga luminosa, com um
sorriso secreto que lhe enche o rosto jovem e bonito, as novas condições da
estratégia Paulo Macedo. Se ele sabe fazer contas a seu favor, eu sei
ajustar-me de modo a pagar o mínimo possível. Assim, despachei o seguro de
saúde que não me servia para nada e em muitos anos nunca o utilizei, e quando o
fiz para tratar dos dentes disseram-me que não tinha direito a nada. Deste
modo, entre o que o gestor pago a peso de ouro pretende obrigar-me a pagar e a renúncia
ao cartão de saúde, ficámos quites, ela por ela. Resta-me aguardar pelo próximo
ano quando acaba uma aplicação e no seguinte quando finda uma outra, para me evadir
de uma prisão sinistra que alberga dentro dos seus muros os conluios fedorentos
e criminosos que a arruinaram. Pena que Jerónimo de Sousa não tenha tido ainda
uma palavra sobre o assunto.